sexta-feira, 19 de agosto de 2016

EDUARDO VASCONCELOS PARTICIPA DA INAUGURAÇÃO DO COMITÊ DA COLIGAÇÃO SEGUINDO NO RUMO CERTO!






 Eduardo Vasconcelos e os amigos/as, Gildaine, Aldo e Abraão

 Eduardo Vasconcelos e as amigas, Paula, Rose e amiga
 Eduardo Vasconcelos e Celma e Natan
 Eduardo Vasconcelos entre Dalvania Cardoso e amiga
 Eduardo Vasconcelos entre amigas do Planalto
 Fernandinha, Eduardo Vasconcelos e Lúcia Souza
 Eduardo Vasconcelos entre amigos de Fé e Irmão Camaradas (Dona Ivone, Marta e amigos/as)
 Eduardo Vasconcelos entre Raquel e Junio
 Eduardo Vasconcelos entre Fernandinha, Zé e Lúcia Souza
 Eduardo Vasconcelos entre as amigas, Silmara e Suelen
 Eduardo Vasconcelos e Gildene
 Eduardo Vasconcelos entre Dalila, Patricia e sua filhinha

 Eduardo Vasconcelos e Ceiça Alves
 Eduardo Vasconcelos entre os amigos, Claudio Lima (direita), Jefferson França, Gabriel Toge e amigo
 Eduardo Vasconcelos ao lado de Juliane Borges e amiga com sua filhinha
 Eduardo Vasconcelos e Jú
Eduardo Vasconcelos, entre Washington Silva e Claudio Lima

O evento ocorreu ontem (18) na Rua Capitão José da Penha, SN - Antigo Rancho Clube - Bairro de São Sebastião, com as presenças de Cid Arruda e João Paulo, além de candidatos a vereadores e convidados.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Geólogos vão à Justiça para reverter venda de campo do pré-sal


Dias depois do anúncio, a Febrageo emitiu nota oficial acusando a venda de “crime de lesa-pátria”. A justificativa é o baixo valor do negócio, considerando o potencial único do Campo de Carcará. Segundo o presidente da Febrageo, João Cézar de Freitas Pinheiro, os conhecimentos existentes sobre o campo indicam que ele pode valer até “dez vezes mais”, considerando todas as variáveis do negócio.

“A empresa não pode vender um ativo sem estudar melhor o valor desse ativo”, critica Pinheiro. A entidade afirma que entrará na Justiça nos próximos dias para tentar reverter a venda. “Carcará é uma descoberta singular, ímpar, potencialmente portadora de grandes volumes, como pode ser deduzido com base nas informações publicadas dos três poços perfurados”, explica.

Na entrevista concedida a RBA, o presidente da Febrageo rebate os argumentos utilizados pela Petrobras para justificar o negócio e afirma que a posição da entidade e de outros especialistas é puramente técnica, em defesa do patrimônio do país.

Como a Federação Brasileira de Geólogos avalia a venda do Campo de Carcará?
Com os conhecimentos que temos da Bacia de Campos e o vasto conhecimento que a geologia brasileira de petróleo detém da Bacia de Santos, não se pode ignorar os indícios de que o Campo de Carcará pode valer dez vezes mais. Nunca uma empresa entregaria um campo como o de Carcará desse modo açodado, desfazer-se de um ativo só para captar recursos financeiros.

Como a Febrageo pretende agir?
Estamos juntando todos os dados técnicos e jurídicos por meio de geólogos especialistas que estão se debruçando sobre o processo. São profissionais com mais de 40 anos de experiência e que conhecem a característica daquele reservatório e do seu óleo. Vamos entrar na Justiça para tentar reverter essa venda. Temos consciência de que nossa posição é estritamente técnica.

Estamos pondo as denominações geológicas em linguagem jurídica, econômica e financeira e juntando esforços com as demais federações, associações e conselhos de geologia, geofísica, engenharia, agronomia, entre outros, em um grande grupo para a proposição de uma ação conjunta, não contra o governo, e sim, a favor do Brasil, na preservação de um dos geradores de energia de petroquímica de interesse estratégico para o país.

Vamos tentar exaustivamente convencer o governo federal de que o que está se fazendo é um açodamento que não condiz com os conhecimentos que temos sobre a Bacia de Santos.

A Petrobras alega que a transação é parte importante do Plano de Parcerias e Desinvestimentos 2015-2016. A empresa diz que essa operação faz parte da política de gestão em priorizar investimentos em ativos com maior potencial de geração de caixa no curto prazo. Qual sua opinião sobre isso?

O potencial de geração de caixa existe em todos os ativos. Achamos, entretanto, que o Brasil deve ter uma política pública de defesa da Petrobras. A empresa não pode vender um ativo sem estudar melhor o valor desse ativo. Exigimos do governo brasileiro que tenha cuidado para que não se jogue fora o patrimônio do Brasil de forma impensada, responsável pelas finanças e geração estratégica de caixas do amanhã empresarial. Dizer que vai fortalecer a Petrobras não nos convence.

A Petrobras alega que as condições tributárias da venda são mais favoráveis do que a venda feita pela Shell, em 2011, de sua parte no mesmo campo, pois não está prevista a cobrança de participação especial. O que o senhor acha dessa explicação?

As condições tributárias não são mais nem menos favoráveis. São as mesmas, pois o bloco BM-S-8 não está submetido ao regime de partilha. É anterior à data da sua implantação e as regras não mudaram. As condições básicas são muito diferentes das praticadas pela Shell em 2011, que vendeu o bloco com prospectos exploratórios de riscos elevados onde, antes da descoberta de Carcará, perfurou-se um poço sub-comercial denominado Biguá, um prospecto de características completamente diferentes das de Carcará. Já a Petrobras vendeu uma acumulação com três poços perfurados, ou seja, um campo de petróleo ainda pequeno, pois não foi delimitado nos flancos, com a certeza da continuidade hidráulica em áreas além dos poços, em pelo menos dois quilômetros lineares, onde se calculam volumes recuperáveis da ordem de 2 bilhões de barris recuperáveis. Além disso, vendeu junto pelo menos dois excelentes prospectos com características e assinaturas sísmicas semelhantes às de Carcará. A Shell vendeu a especulação e a Petrobras, a certeza e a quase certeza. São coisas absolutamente diferentes.

Outro argumento da empresa é que Carcará é uma área isolada e com maior pressão no reservatório, o que aumentaria os custos logísticos e de equipamentos. Qual sua opinião?

Carcará é uma descoberta singular, ímpar, potencialmente portadora de grandes volumes, como pode ser deduzido com base nas informações publicadas dos três poços perfurados, todos situados no ápice da estrutura, com os flancos limítrofes da acumulação ainda não perfurados, num processo de delimitação onde deve haver volumes de hidrocarbonetos maiores ainda que os anunciados.

No mundo, como Carcará, só um campo de petróleo denominado Tengiz, no Cazaquistão, é portador de volumes recuperáveis (reservas) da ordem de 20 bilhões de barris. Ambos têm as pressões dos reservatórios anormalmente elevadas, ou seja, seus reservatórios são altamente energizados, o que facilita a produção, mantém elevadas vazões por poço e as suas respectivas curvas de declínio são pouco acentuadas, quando comparadas às de reservatórios com pressões normais. Numa análise econômica, isto significa antecipação de capital via maior produção por poço, ou seja, de retorno de capital imediato, com amortização rápida de investimento, como é desejável em qualquer negócio de qualquer espécie, principalmente o de risco, como o petróleo, cujos preços podem oscilar rapidamente por razões geopolíticas e guerras nas regiões de conflagrações do Oriente Médio.

Qual a importância de Carcará num contexto de preço baixo do petróleo e numa conjuntura geológica diferente das demais até agora descobertas? 

Normalmente na exploração de petróleo, em operações de capital intensivo, como é o caso do pré-sal, perfuram-se poços horizontais, muito mais caros que os verticais, para garantir que o poço atravesse maiores áreas do reservatório e aumente o índice de produtividade por poço, pois assim se drena, ao mesmo tempo, maiores áreas do reservatório com um único investimento, no caso um poço.

Em Carcará, a lógica será diferente. Ali, como a coluna vertical de reservatórios é muito grande, será possível drenar grandes áreas verticais com poços verticais, com resultados de produtividade semelhantes às dos poços horizontais, a despeito da operação de perfuração, em áreas de alta pressão, exigirem equipamentos especiais e dutos mais resistentes e caros para transportar os hidrocarbonetos. Assim, é falaciosa a explicação de que Carcará exigirá mais investimentos que as demais áreas, pois o retorno antecipado de investimento e o preço do poço vertical compensa a diferença. Além disso, Carcará não tem CO² e H2S, que são elementos corrosivos de plantas e dutos, não sendo necessárias plantas especiais de processamento para drenar e produzir tais elementos. Também os hidrocarbonetos limpos e leves de Carcará podem ser misturados aos hidrocarbonetos das outras acumulações e melhorar a eficácia de transporte e até viabilizar produções de áreas menores, hoje subsidiárias, se o escoamento passar por áreas adjacentes. As análises econômicas de tais áreas, sem a necessidade do custo dos dutos, provavelmente tornará muitas delas viáveis.

Há outros campos em condições semelhantes e que a Petrobras pode querer vender?

A Petrobras não poderá negociar áreas semelhantes, pois não há outra área já perfurada, com as mesmas excelentes características constatadas. Nas cercanias de Carcará, e nos alinhamentos geológicos específicos do mesmo conjunto, foram identificadas outras potenciais acumulações similares, conhecidas como prospectos. Para perfurá-los, os riscos exploratórios serão sempre elevados, apesar de serem minorados pela semelhança com Carcará. Tais prospectos, certamente, serão objeto de futuras negociações pela Agência Nacional do Petróleo (ANP), pois estão em áreas promissoras que ainda pertencem à União. 


Fonte: Rede Brasil Atual
C/ Portal Vermelho

terça-feira, 16 de agosto de 2016

PEC que reduz verbas da saúde e educação é inconstitucional


O único representante do governo ilegítimo de Michel Temer, que propôs a MP, afirmou não ser possível fazer projeções, pois as variáveis econômicas para definir os índices a serem aplicados ao orçamento são voláteis.

A PEC 241está em análise na Câmara dos Deputados e tem por objetivo limitar, por 20 anos, o aumento dos gastos públicos à taxa de inflação do ano anterior. A medida atinge as áreas de saúde e educação, pois muda os critérios para que os valores mínimos aplicados nas duas áreas sejam corrigidos pela inflação, ou seja, a recomposição orçamentária teria por base apenas a variação inflacionária. Hoje, essas despesas são constitucionalmente atreladas à arrecadação.

Violação de princípio

A procuradora federal dos Direitos do Cidadão, Débora Duprat, afirmou que o texto da PEC afeta o núcleo do próprio direito à saúde e à educação e é inconstitucional, pois viola o princípio do não-retrocesso. Ela salientou que a Constituição Federal de 1988 instituiu um modelo revolucionário de financiamento para transformar a educação e a saúde em serviços efetivamente públicos e que as formas como são distribuídos os recursos para esses dois setores constituem o próprio direito à saúde e à educação, o que será afetado com a aprovação da proposta.

Débora lembrou que a situação atual da saúde, com a Emenda Constitucional 86, que cria subtetos de financiamento, já é ruim e fere a lei que garante investimento na área em valor igual ou superior ao ano anterior, mesmo com Produto Interno Bruto (PIB) negativo. Segundo a procuradora, a EC 86 já está sendo questionada na Justiça.

A representante da Associação Brasileira de Saúde Coletiva (Abrasco), Eli Iola Andrade, quantificou, segundo estudos da Universidade de Campinas (Unicamp), a perda para o setor se os novos índices propostos pela PEC já estivessem em vigor. “Seriam mais de R$ 3 trilhões que perderíamos se essa PEC tivesse sido aplicada no Brasil a partir de 2003. Então, não é brincadeira o que está se propondo”, disse.

Conflito de interesse

Na opinião de Eli Andrade, o subfinanciamento do SUS é resultado de um conflito de interesses entre os setores público e privado e isso pode piorar caso a PEC seja aprovada.

Também Juliana Acosta Santorum, do Conselho Nacional de Saúde (CNS), criticou a PEC 241. Para ela, quando a saúde é vista como um setor de mercado, e não como um direito, a população é deixada de lado em favor dos empresários.

“Nas eleições de 2014, as empresas Amil, Bradesco, Qualicorp e Grupo Unimed doaram juntas em torno de R$52 milhões para candidaturas de 131 parlamentares. Então, a gente sabe que muitas vezes se vê nesta Casa os interesses do mercado se sobreporem aos direitos da população”, afirmou.

Direitos resguardados

Remi Castioni, representante do Fórum Nacional de Educação (FNE), lembrou que saúde e educação são políticas irmãs, estando intimamente ligadas e a decisão sobre uma afeta a outra. “Se chegarmos em 2037 com uma população com baixas taxas de escolaridade, um produto interno bruto per capita abaixo do que apresentamos agora, vamos ter dificuldades para enfrentar a velhice”, disse.

Francisco Saraiva, da Confederação Nacional dos Trabalhadores no Comércio e Serviços (Contracs), criticou o que chamou de "projeto de Estado mínimo" que teria sido imposto pelo presidente ilegítimo Michel Temer. Segundo afirmou, isso afeta somente a classe trabalhadora e mantém “burguesia e empresariado com direitos resguardados”.

Ele criticou a supressão de verbas para as duas pastas e alertou para o consequente sucateamento de estados e municípios, sobretudo nas regiões mais pobres do país, se a PEC for aprovada. Saraiva elencou projetos da educação que estarão em risco, como alimentação e transporte de alunos e, principalmente, a criação e manutenção de creches. Nos últimos anos, as creches promoveram a inserção das mulheres do mercado de trabalho, destacou. 


De Brasília, com Agência Senado 
C/ Portal Vermelho

quarta-feira, 10 de agosto de 2016

O que pensam os secundaristas sobre a Lei da Mordaça

Confira o bate papo da UBES com estudantes sobre um dos maiores retrocessos para o setor da educação: a Lei da Mordaça:
A comunidade estudantil participou de protestos nas ruas de todo Brasil, no último dia 31/7, contra os retrocessos no setor da educação que ocorreram desde a tomada de posse do governo ilegítimo de Michel Temer. A mobilização nacional reivindicou ainda, a retirada do presidente interino e a realização de um plebiscito popular sobre novas eleições.
Nesse cenário,  secundaristas se uniram ao coro, nas ruas de São Paulo, para protestar contra um dos maiores retrocessos para a educação desde o período da ditadura militar: a Lei da Mordaça. Confira o que pensam os secundas!
Para Isabelle Galane, estudante da Escola Técnica Estadual Professor Horácio Augusto da Silveira: “o projeto Escola Sem Partido se trata, na verdade, de uma proposta muito política. A crítica feita pelo projeto é exatamente aquilo ao que ele se propõe: doutrinar, retirar as pautas da esquerda do debate e privilegiar as da direita. Ele se apresenta com um falso discurso de neutralidade e quem sofre mais são os professores que podem ser prejudicados judicialmente! ”, explicou. 

Nas palavras do colega de escola da jovem, Tarik Gonlçalves: “em pleno século XXI, estão querendo nos fazer retornar para a ditadura! Novas regras são criadas para os professores, mas nada é dialogado, discutido com eles. Esse projeto é algo que restringe a participação do estudante e do professor, feito por pessoas que não participam diretamente da educação e, portanto, não sabem o que é estar dentro da sala de aula, lecionando! Além disso, nesse processo o estudante é tratado como se não soubesse o que é bom ou não para si e para a escola”, concluiu. 

Na avaliação do secundarista Caio Mateus Monobato, da Escola Técnica Estadual Professor Horácio Augusto da Silveira : “a Lei da Mordaça busca não só diminuir o espaço do professor, que deveria ser um mediador do conhecimento dentro da sala de aula, mas também coloca em risco o pensamento crítico e livre do estudante. A partir disso, o projeto foi colocado para adestrar ainda mais os secundaristas e ensinar a eles uma coisa: que devemos nos preparar para um mercado neoliberalista, onde seremos apenas produtos”, criticou. 

No ponto de vista do vice-presidente regional da UBES do estado do Amazonas, Juan Wendel, “quando falamos desse PL, falamos também sobre a nossa democracia e um pouco do que vivemos na conjuntura nacional atual. A partir do momento em que esse governo assumiu o poder, o Ministério da Educação lançou a proposta da Lei da Mordaça. Trata-se de um projeto que não iremos aceitar, já que ele retira a liberdade de expressão, a diversidade, as pautas do movimento feminista, negro e LGBT de dentro das salas de aula. Queremos uma escola ampla, em que a diversidade seja respeitada! A Lei da Mordaça torna a escola antidemocrática, prega a opressão à juventude e aos segmentos que já são marginalizados pela sociedade!”, denunciou. 

O secundarista Fernando Ferreira, estudante da Escola Estadual Plinio Barreto, considera que “a Lei da Mordaça é uma proposta feita por golpistas! Criada para tirar a liberdade de expressão dos alunos e dos professores! Na verdade, ela busca fazer com que a juventude pense do mesmo modo com o qual esse governo ilegítimo pensa! Temos de discutir política dentro das escolas, é um assunto muito relevante para nossa formação! ”, enfatiza.
E você, o que pensa sobre a Lei da Mordaça?
Fonte: UBES

terça-feira, 9 de agosto de 2016

Justiça libera manifestações durante a Olimpíada


Foto: Patrique Lima
 Torcida poderá se manifestar livremente durante os jogos
 Torcida poderá se manifestar livremente durante os jogos

A iniciativa atendeu a um pedido do Ministério Público, como o próprio magistrado reconhece em seu despacho. Por sua vez, o Ministério Público foi acionado pelos deputados Paulo Pimenta (PT-RS) e Padre João (PT-MG), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias (CDHM) da Câmara. A CDHM e Pimenta representaram contra o Comitê Olímpico Iinternacional (COI) junto à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão (PFDC) na manhã desta segunda (8).

A decisão tem como alvos, além do comitê, o governo do estado do Rio de Janeiro e a União. A liminar determina que “os réus se abstenham de impedir a manifestação pacífica de cunho político através da exibição de cartazes, uso de camisetas e de outros meios lícitos nos locais oficiais dos Jogos Olímpicos Rio-2016”.

Araújo continua dizendo que “chegou ao conhecimento da Procuradoria Regional dos Direitos do Cidadão do Rio de Janeiro a prática coordenada e adotada pelos réus de impedir os espectadores dos jogos de exibir cartazes ou usar camisetas com manifestações políticas nas arenas esportivas, obrigando-os a guardarem os mesmos e, nos piores casos, retirando-os do recinto por agentes da Força Nacional ou da Polícia Militar”.

Para Paulo Pimenta, a agilidade da Justiça nesse caso é resultado da “repressão absurda” que o COI e o governo golpista de Michel Temer impuseram à população. “Não poderíamos aceitar esse tipo de ação repressiva, assim como não vamos aceitar esse golpe que Temer está querendo impor. A liberdade de expressão e a democracia precisam ser respeitadas e nossa luta é nesse sentido”, afirmou o parlamentar.

O texto do juiz termina dizendo que o descumprimento da decisão acarretará em “multa pessoal ao seu responsável no valor de R$ 10 mil por cada ato que viole a presente decisão, sem prejuízo das demais sanções previstas legalmente”.

Relatos de torcedores sendo reprimidos ou retirados dos locais de competição por causa de manifestações políticas têm sido frequentes nos Jogos Olímpicos e os episódios foram registrados pela imprensa internacional. 


 Fonte: PT Notícias

Rafaela Silva cala racistas e conquista o primeiro ouro para o Brasil

Atleta negra, moradora da Cidade de Deus, no Rio de Janeiro, onde começou a treinar judô, Rafaela guardou por quatro anos a frustração pelo erro que a eliminou da competição e que provocou ofensas a ela pela rede social, quando foi chamada de macaca.
“E agora eu estou aqui, campeã mundial, mostrando para todos que me discriminaram que você não depende de cor, de raça, nem de dinheiro para ser campeão e conseguir sua medalha”, declarou Rafaela ao final da luta.
Falando especificamente sobre os ataques racistas de que foi vítima Rafaela afirmou: "Já passou, tem quatro anos. Eu só posso falar: o macaco que tinha que estar na jaula em Londres hoje é campeão olímpico em casa. Hoje eu não sou a vergonha para a minha família".
O pai de Rafaela, Luiz Carlos, assistiu hoje de perto a filha ser campeã. Ele lembrou que deixou de ver muitas competições de Rafaela por não ter dinheiro para pagar o transporte da Van.
Eu falava pra ela: “filha, eu quero ir, mas não tenho dinheiro mas sua mãe vai e vai contar pro seu pai como foi”.
A força da periferia
O ex-judoca Flávio Canto, ainda muito emocionado com a conquista da judoca, lembrou que o técnico de Rafaela, Geraldo Bernardes, foi um dos responsáveis pela recuperação da atleta. 
Flávio é um dos idealizadores do Instituto Reação, que atua junto a comunidades carentes do Rio de Janeiro e promove a inclusão através do esporte e da educação. O ex-atleta acompanhou de perto a recuperação de Rafaela após a Olimpíada de Londres.
“Do jeito que ela lutou hoje, atropelando todo mundo, o Geraldo que costuma falar para ela “botar a favela pra fora”, para deixar ela com sangue nos olhos, é o cara mais importante nessa história, na formação da Rafaela.
Feliz por sua trajetória da periferia ao pódio olímpico, Rafaela declarou: "É muito bom para as crianças que estiverem agora assistindo o judô. Se eu pude ajudá-las com esse resultado. Mostrar que uma criança que começou no judô por brincadeira hoje é campeã mundial e campeã olímpica. É inexplicável. Se elas tiverem um sonho, têm que acreditar, porque ele pode se realizar".
Redes sociais
A vitória de Rafaela provocou uma enxurrada de elogios nas redes sociais. “E você venceu negra, mulher, favelada. Mostrou para o mundo o seu poder. Você é ouro”, foi uma das mensagens veiculadas no twitter.
 
Do Portal Vermelho, com agência

segunda-feira, 8 de agosto de 2016

Maria da Penha: lei precisa ampliar ainda mais a proteção às mulheres



Segundo ela, Roberto* nunca foi um homem carinhoso, mas atribuía isso ao fato de ele ser 22 anos mais velho que ela, que tem 54. Ela disse que desde o início da relação, ele se mostrou muito ciumento e machista. “Mas eu achava o namoro normal, até que começou o desrespeito total, depois de uns quatro anos juntos”.

Roberto agredia Maria de diversas maneiras. “Me jogava para baixo, dizia que eu não servia para nada, que eu fazia tudo errado, que eu não era uma boa mulher e que ele ia procurar outras. Se passava uma mulher atraente, ele a cantava na minha frente”. Os xingamentos foram se tornando cada vez mais frequentes. “Até que um dia ele começou a ejacular nas cuecas que eu tinha que lavar e me dizia que tinha sido fulana ou sicrana quem havia provocado o desejo dele”, conta, indignada.

Depois de tanta humilhação, Maria percebeu que estava adoecendo e decidiu tomar uma atitude por conta própria. “Parei de fazer sexo com ele. Disse ao Roberto que ele não me tocaria mais. A briga foi feia. Ele me castigou parando de me dar dinheiro, além de parar de pagar meu aluguel. Eu moro com a minha filha de 18 anos no mesmo prédio que ele, mas não é no mesmo apartamento. Três meses depois, fui despejada. Passei um período na casa de uma vizinha mas, nesse ínterim, peguei uma pneumonia e afundei numa depressão. Era muita pressão, vergonha, tudo. Depois de um tempo não vi saída, tive que me humilhar e acabei voltando com ele.”

Maria limpa, lava, passa e cozinha para Roberto, mas ele insiste em dizer que ela não trabalha. Ele sempre lembra quem paga as contas e, logo, quem manda. “Como se o que eu faço não fosse trabalho. A única diferença é que não sou remunerada, porque trabalho e muito. E é essa a única razão, eu continuo com ele porque dependo financeiramente dele.”

Ela relatou que há alguns meses apareceu uma moça na sua vizinhança que passava todos os dias em frente à loja de Roberto, a caminho da academia. “Ele ficou fascinado por ela e não fazia questão nenhuma de esconder isso. Dizia que sonhava com ela, que ela era mulher de verdade. De novo, aquilo me feriu muito. Agora, já parei de chorar, mas estava tão doente que não conseguia nem falar dos meus problemas.”

A máquina de lavar do prédio de Roberto é coletiva e fica no corredor para uso comunitário. “Eu fui à casa dele lavar as roupas e estava deitada na cama enquanto a máquina funcionava. De repente, ele subiu, minutos depois da hora que eu sabia que a moça passava e me estuprou. Aí, eu me toquei do que ele estava fazendo, ele estava com tesão por outra e me usou. Para mim, foi o fim.”

Após o episódio, Maria procurou o Centro Especializado em Atendimento à Mulher para buscar um psicólogo. “Fui bem atendida por uma equipe multidisciplinar. Perguntaram se eu queria fazer a denúncia, mas eu disse que não podia. Por que eu não posso? Ele é muito conhecido e eu preciso dele. Eu quero é me curar e me livrar dele.”, disse.

Maria continua com Roberto, mas está se preparando para deixá-lo. “Eu penso em ter a minha independência, por isso estou me reciclando e me empenhando, porque preciso dessa estabilidade.” Aos 54 anos, está fazendo o curso de recepcionista ofertado gratuitamente na Casa da Mulher Brasileira (CMB), em Brasília. “O amor acabou, não tinha como durar. Eu tenho vontade de amar de novo e ter uma relação saudável, mas o trauma é muito grande.”

A história de Maria é um caso clássico de violência doméstica, mas até a Lei Maria da Penha o senso comum dizia que era um problema de foro íntimo e, portanto, não cabia interferência.

A Lei 11.340 foi sancionada no dia 7 de agosto de 2006 com o objetivo de coibir a violência doméstica e familiar no país. A legislação foi batizada em homenagem à farmacêutica cearense Maria da Penha, que ficou paraplégica após levar um tiro do marido, pai de suas três filhas, em sua segunda tentativa de homicídio contra ela, em 1983.

A história de Maria da Penha ganhou repercussão internacional quando ela acionou a Comissão Interamericana de Direitos Humanos da Organização dos Estados Americanos (OEA) em busca de uma solução, após aguardar a Justiça brasileira por 15 anos. O caso mostrou a fragilidade enfrentada pelas brasileiras que eram vítimas de violência e não eram acolhidas pelo Estado.

Diretora de Conteúdo do Instituto Patrícia Galvão, organização social sem fins lucrativos que atua no direito das mulheres, a psicóloga Marisa Sanematsu avalia que a lei é bem formulada e completa, uma vez que define claramente as formas de violência doméstica como moral, sexual ou patrimonial. “Muita gente nem sabia que violência psicológica era um crime enquadrado, passou a saber com a divulgação da lei. Antes, a sociedade só considerava a violência contra a mulher aquela violência física. E não bastava ser simples, tinha que deixar a mulher com muitas marcas para as pessoas aceitarem que, dessa vez, o marido exagerou”, disse.

A coordenadora da Casa da Mulher Brasileira de Brasília, Iara Lobo, concorda. “Ter essa tipificação que a lei traz dos tipos de violência clareou a mente das pessoas, que antes nem percebiam que algumas agressões se configuram crimes.”

A socióloga e educadora Carmen Silva, da organização SOS Corpo e da Articulação de Mulheres Brasileiras (AMB), considera que a divulgação da Lei Maria da Penha foi muito eficiente nos últimos anos, mas precisa se transformar em mais serviços, especialmente para as mulheres de baixa renda. “Todo mundo conhece a lei. Mas isso tem favorecido especialmente as mulheres mais esclarecidas, dos setores médios e que têm mais recursos financeiros, a maioria branca, que têm mais possibilidade de sair do ciclo de violência. A violência contra as mulheres brancas diminuiu, mas contra as negras, que estão na base da pirâmide e têm menos acesso à informação, a trabalho e aos serviços públicos, não.”

Serviços especializados

Na última semana, a ONU Mulheres, entidade das Nações Unidas para a igualdade de gênero, o Instituto Maria da Penha e o Consórcio de Organizações Não Governamentais Feministas pela Lei Maria da Penha divulgaram nota pública em defesa da lei e da institucionalização das políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres. No documento, a ONU diz que o aniversário da Lei Maria da Penha traz à tona “o desafio urgente de implementar de maneira mais efetiva as políticas de enfrentamento à violência contra as mulheres com perspectiva de gênero”.

Como principais obstáculos, o manifesto cita a necessidade de ampliar a dotação de recursos financeiros e humanos em serviços especializados para atendimento com perspectiva de gênero, promover ações preventivas nas escolas por meio do ensino da igualdade de gênero, criar e implementar os serviços de responsabilização para homens agressores, aprimorar a produção de informação nacional e garantir a expansão de serviços especializados em municípios no interior do país.

O documento considera que a Lei Maria da Penha é um “legado feminista para o Brasil” e que a necessidade de “enfrentar a violência machista com o pleno atendimento de mulheres negras, jovens e rurais, por exemplo, mostra os rumos que a Lei Maria da Penha tem de seguir, de maneira implacável, nos próximos anos”. Segundo a Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM), no entanto, ainda não há ações planejadas nesse sentido.

Além da Lei Maria da Penha, a organização destaca a criação de mais dois instrumentos fundamentais para o combate à violência - a Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, instituída em 2005, e a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180.

Rede integrada

A delegada Ana Cristina Melo atua à frente da Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher do Distrito Federal desde novembro de 2011. Ela é uma defensora da ampliação dos espaços especializados para o acolhimento dessas vítima. Segundo Ana Cristina, quem trabalha com a temática percebe o caráter essencialmente cultural da violência de gênero. “E quando você tem um caráter cultural, ele perpassa toda a sociedade, sejam homens ou mulheres. Os agentes públicos, como integrantes dessa sociedade, têm também muitos preconceitos, valores e esteriótipos que demandam capacitação, trabalho e tempo para serem desconstruídos. É preciso sim um espaço especializado para o acolhimento das mulheres”, argumenta.

De acordo com a SPM, atualmente existem no Brasil 502 delegacias especializadas, 45 defensorias da mulher, 95 promotorias especializadas, 238 centros de referència de atendimento à mulher, 80 casas-abrigo e 596 serviços especializados de saúde, números considerados inexpressivos para o tamanho da violência que se vive no país. São 1.651 serviços especializados de atendimento à mulher disponíveis para atender a todas as brasileiras, mais de 70% deles concentrados nas regiões Sudeste, Centro-Oeste e Sul.

Enquanto o Distrito Federal tem 18 núcleos da Deam, uma casa-abrigo, 19 varas especializadas, um núcleo de Defensoria Pública Especializada, 39 promotorias, 51 serviços especializados de saúde e uma Casa da Mulher Brasileira, que reúne inúmeros serviços, em Alagoas, por exemplo, só existem quatro delegacias especializadas, uma casa abrigo, uma vara especializada, um núcleo da Defensoria Pública, uma promotoria e dois serviços especializados de saúde para atender a mulheres de todo o estado.

A delegada Ana Cristina Melo contou que quando conversa com colegas de outros estados, se ressente da realidade do país. Segundo ela, sem uma atuação em rede entre os órgãos públicos, não é possível combater esse tipo de violência. “Porque colocar na mão só da polícia e dar esse caráter só repressivo não é o caminho. A repressão é muito importante para a responsabilizar o agressor, é extremamente importante, mas a violência doméstica tem muita coisa que a circunda”, disse. Ela explicou que muitas mulheres dependem de outros serviços do estado para sair do ciclo de violência. “Muitas têm demandas jurídicas, questões das quais dependem para que a situação seja resolvida. Aqui em Brasília é muito comum. Um casal por exemplo tem um lote, é a única coisa que aquela mulher tem. Eles não estão vivendo mais juntos, mas estão dentro da casa. Aí começam os atritos, mas ela não tem acesso aos serviços jurídicos para resolver o problema e continua lá, o que pode acabar em morte”.

Para enfrentar os problemas, Fátima Pelaes lembrou que no fim de maio foi criado o Núcleo de Proteção à Mulher pelo Ministério da Justiça – desde que o governo interino assumiu, a SPM deixou de ser subordinada à Presidência da República e passou para o Ministério da Justiça. Já foram feitas duas reuniões, mas as agenda de trabalho ainda não foram definidas. “Com o núcleo, estamos trabalhando propostas como o protocolo único de atendimento às mulheres, para que possamos reproduzir boas experiências em nível nacional”, disse a secretária.

Casa da Mulher Brasileira

Uma das políticas mais bem-sucedidas nesse sentido é a Casa da Mulher Brasileira, que reúne diversos serviços públicos em um só espaço para fazer um atendimento integral às mulheres vítimas de violência. “A CMB foi idealizada para atender de forma plena uma única vez. Quando chega aqui, ela tem a delegacia, a Defensoria Pública, o Ministério Público e uma equipe multidisciplinar para fazer o atendimento psicossocial e ajudá-la a ter uma vida mais ou menos normal, porque a violência doméstica de todos os tipos, seja física, moral, psicológica ou patrimonial, deixa sequelas na alma”, afirma a subsecretária de Políticas para as Mulheres do Distrito Federal, Lúcia Bessa. A casa também oferece brinquedoteca e cuidadores para as crianças.

Atualmente, só existem duas casas da Mulher Brasileira em funcionamento no país - em Brasília e em Campo Grande, e três em construção - em São Paulo, Fortaleza e Curitiba. O plano é criar uma casa em cada capital. Lúcia defende a ampliação desse instrumento o quanto antes. “Esses locais permitem que as mulheres se sintam acolhidas, amparadas, respeitadas e dignas. Quando a mulher é obrigada a ir a vários órgãos públicos para contar e recontar a sua história, ela vai revivendo tudo o que passou e isso é uma forma de violência institucional”.

Números da violência

A eficiência da Lei Maria da Penha no combate à violência doméstica é difícil de ser medida em números, pois sabe-se que na maior parte dos casos os agressores não são denunciados. Mas os dados do Mapa da Violência de 2015 indicam impacto positivo. Enquanto o índice de crescimento do número de homicídios de mulheres no Brasil foi de 7,6% ao ano entre 1980 e 2006, quando a Lei Maria da Penha entrou em vigor, entre 2006 e 2013 o crescimento foi de 2.6% ao ano.

Mesmo com os avanços, as estatísticas mostram que a violência de gênero ainda é comum. O Mapa da Violência de 2015 revela que, entre 2003 e 2013, o número de vítimas de homicídio do sexo feminino passou de 3.937 para 4.762, um aumento 21% na década. Essas 4.762 mortes em 2013 representam 13 homicídios femininos diários.

Em 2015, a Central de Atendimento à Mulher – Ligue 180 recebeu 76.651 relatos de violência. Entre esses relatos, 50,16% corresponderam à violência física; 30,33% à violência psicológica; 7,25% à violência moral; 2,10% à violência patrimonial; 4,54% à violência sexual; 5,17% a cárcere privado; e 0,46% ao tráfico de pessoas.

A violência doméstica é uma realidade mundial. Números recentes da Organização Mundial da Saúde com a London School de Higiene e Medicina Tropical e pelo Conselho de Pesquisa Médica, com base em dados de mais de 80 países, estimam que uma em cada três mulheres (35%) no mundo já foi vítima de violência física ou sexual pelo menos uma vez, e que em 30% dos casos, os agressores eram os parceiros.

Ajuda

A delegada especializada em violência de gênero, Ana Cristina Melo, garante que a violência doméstica não escolhe idade, renda ou aparência física, todas as mulheres estão sujeitas. Apesar de o ideal ser buscar ajuda antes que a violência se agrave, segundo a delegada não é possível definir o que leva cada mulher a ter coragem de fazer uma denúncia para tentar colocar um ponto final na violência. “Há mulheres que buscam logo no início, em situações que não são vistas ainda como graves pelo senso comum, como por exemplo um xingamento do tipo "sua vagabunda". Há mulheres que relatam que sofreram violência por mais de 20 anos antes de denunciar e outras que já fizeram várias ocorrências, muitas mesmo, mas ainda não conseguiram sair desse ciclo de violência”. Ela alerta que “quanto antes denunciar, melhor”.

A especialista Iara Lobo sugere que as mulheres fiquem atentas aos sinais, como excesso de ciúme e controle, que podem indicar uma relação doentia. Quem vive relacionamentos em que o parceiro controla a roupa, o comportamento ou o celular, deve ficar atenta. “Muitos desses sinais estão dentro de nós. A consciência de que isso não está fazendo bem é um sinal”, observa.

Segundo Iara, as mulheres precisam refletir e levar em conta que “a gente também tem o machismo dentro da gente”, o que pode dificultar o reconhecimento de que algo vai mal.

A secretária Fátima Pelaes defende que combater o machismo é o passo mais importante para combater a violência contra as mulheres. “Ao mesmo tempo em que trabalhamos para que essa rede de enfrentamento atenda à grande demanda, temos que trabalhar a prevenção e entrar na raiz do problema, que é essa cultura machista que vem de muitos anos. Temos que atuar nas escolas e sensibilizar a sociedade como um todo. E temos que trabalhar com o agressor, porque muitos vezes ele está reproduzindo um comportamento, não reconhece como violência.”

Em caso de dúvida sobre como buscar ajuda ou ajudar vítimas de violência doméstica, Ligue 180. 


Fonte: Agência Brasil
C/  Portal Vermelho

Povo brasileiro não deve permitir que ódio germine, diz Pepe Mujica


A organização do evento aguardava sua chegada com ansiedade. Olhos atentos ao portão de desembarque. Muitos, se não todos, esperavam ver Mujica acompanhado de assessores ou, no mínimo, de um secretário para cuidar da agenda, bastante cheia, por sinal. Mas os que assim acreditavam, enganaram-se. Nenhuma comitiva, nenhum segurança. Pepe desceu apenas ao lado de sua companheira, a também senadora Lucía Topolansky Saavedra. Trazia uma maleta preta e uma mensagem para compartilhar com gente de todas as idades.
Enquanto caminhava pelo aeroporto, o ex-presidente despertava a atenção das pessoas. Algumas perguntavam se o senhor em questão era mesmo o político uruguaio. As fotos, claro, não poderiam faltar. Em meio a olhares admirados, mas mantenedores de certa distância, bem ao estilo curitibano, um rapaz que passava ao lado do grupo lançou: “Esse cara, sim, deveria ser o presidente do Brasil”.
Mujica parecia cansado. Também pudera. A viagem durara sete horas, desde o Aeroporto de Carrasco, em Montevidéo, com escala em Guarulhos. Antes disso, havia estado em Corrientes, na Argentina.
O frio com que se deparou não chocou o casal, acostumado à sua terra natal. Mujica ensaiou uma breve aula de geografia climática, versando sobre a temperatura das capitais latino-americanas a partir da posição e altitude de cada uma. Passado o arroubo, a inevitável pergunta: “Já vamos para o hotel?”. 
Questionado se estava feliz em retornar ao Brasil, o palestrante foi direto ao ponto: “Ultimamente só fico feliz mesmo quando estou indo para a minha casa”. No caminho até o hotel onde se hospedaria, uma de suas preocupações era com os ritos matinais: "Aqui vocês não tomam mate? Nós tomamos toda manhã. Parece que não acordamos sem ele”. Mas a maioria dos que o acompanhavam não ouvia direito. Ou não haviam tomado seu mate, ou iam embalados no meio sonho de estar ao lado de uma referência daquele tamanho.

“Mujica is my hero”

Difícil saber se era maior o número de flashs ou a paciência do ilustre convidado. Mujica parecia não gostar de tanta “tietagem”. Se a idade também pesava, a verdade é que não acreditava mesmo que aquilo tudo fosse necessário. Confrontado com um jovem que contou ter uma camisa com seu rosto estampado sob a mensagem “Mujica is my hero”, apenas balançou a cabeça negativamente. Parecia dizer: “não, não é nada disso. Não quero ser essa figura". Contudo, ser uma referência, um ícone da esquerda, não é mais uma opção. Sabedor de sua missão, Pepe Mujica abria mão do conforto e simplicidade de sua casa, na zona rural de Montevidéu, para mergulhar no ginásio do Círculo Militar do Paraná, onde enfrentaria uma ávida audiência.
Entre as opções de cardápio no jantar, optou pela eclética: gnocchi de batata doce com costelinha suína, servida num melado artesanal da serra do mar. Alguém brincou que quem senta na ponta, paga a conta. Mujica responde: “No Uruguai paga quem tem mais dinheiro”. Risadas. Silêncio. 
Via de regra, manteve-se o mais discreto possível, se é que isso era possível. Nas refeições que dividiu não fez nenhuma questão de ser o centro das atenções. Muito pelo contrário. O tom baixo de sua voz nas conversas reservadas contrastava com o trovão que se tornava ao falar em público e discorrer sobre lições de vida, muito mais do que sobre política propriamente dita. 
Tecnoilusões 
Dentre todas as peculiaridades da personalidade de Mujica, uma, em especial, chamou a atenção no diálogo inter-geracional: ele não usa celular. Ou, pelo menos, não tocou no aparelho em público durante toda a sua passagem por Curitiba. Nesses pequenos gestos talvez transmitisse uma de suas mensagens mais marcantes: um senhor de 81 anos, de pouca intimidade com os aparelhos digitais, debatia as possíveis formas de escravidão e dependência atreladas à tecnologia, com uma plateia inteiramente conectada às redes sociais. Ele foi ovacionado, inúmeras vezes. 
Na contramão da enxurrada de imagens, selfies e posts, Mujica se mostrava cansado de superficialidade e insistia na lição de que é preciso buscar mais profundidade na vida. Em entrevista à equipe de cobertura do evento, irritou-se com uma pergunta sobre o avanço do neoliberalismo na América Latina. “Você poderia ser mais criativa, todos me perguntam isso”. Para ele, que enxerga a História antes como processo do que como retrato, é impossível tratar certas questões em uma reportagem “com tom de revista frívola”. Foi assim que se recusou a falar sobre democracia representativa. “Não é que eu seja antipático, mas é que é preciso respeitar o pensamento”, defendeu.
Simpático e incisivo, despojado e ranzinza. Ele mesmo é a contradição e a harmonia com seu discurso, uma figura de “carne y hueso”. A todo o momento, uma surpresa. Mais do que referenciado por seu mandato na presidência, Pepe Mujica impressiona pela sua humildade e simplicidade em tempos tão plásticos e movidos à base de glamour político. É isso, possivelmente, que faz com que levas de jovens acudam para escutar as palavras dessa figura convicta em sua humanidade falível e assustada com tanta cultura capitalista.
Ao seu lado, sempre, Lucia Topolansky atendia a todos com igual solicitude. Como dissera seu próprio companheiro, o importante é chegar ao final da vida e reconhecer que ela não foi inútil. Se alguém poderá dizer isso, no crepúsculo de sua existência, certamente, serão Mujica e Topolansky.
Com as mesmas roupas e a indefectível cuia de chimarrão, ambos deixaram Curitiba no silêncio profundo em que chegaram. Lucía com seu sorriso acolhedor e Pepe com seu olhar de devassa, perspicaz e cansado, como quem esconde mais do que revela. Ou como quem se compadece da pergunta que deixa no ar: "Que tempo vocês têm para amar?”. 

“Toco y me voy” con Mujica 

Desrespeitando um pouquinho sua postura que preza pela profundidade, seria possível pinçar das conversas com o senador um ping-pong com frações de respostas. Seria algo mais ou menos assim: 
Importância da educação: "Sou menos radical do que Nelson Mandela. A educação é fundamental, mas não podemos colocar na conta da educação todos os erros da política. Apesar disso, ela é fundamental para garantir a tolerância”. 
Sobre a descrença dos jovens na política: "O homem é um animal político, já dizia Aristóteles. Mas, no mundo da mercadoria, tudo é um negócio, e se propaga a ideia de que na vida é preciso juntar dinheiro e ser rico. Então se toma a política como um caminho para se chegar a riqueza. A política é a carreira da dignidade e nela deve-se viver como vive a maioria do povo e não como a minoria aristocrática. Mas nunca irão se esgotar as contradições". 
Sobre o atual momento político do Brasil: “A conta pendente do povo brasileiro é não permitir que o ódio germine por divergências políticas”. 
Momento histórico por qual passa a democracia: “Ah, por favor, a História da humanidade não teve início na Revolução Francesa! Tudo é um processo. Nós temos que nos dar conta que essa é uma luta permanente de mudança e que vai nos custar a nossa existência e levar toda a nossa vida.
Sobre o excesso de fotografias a que foi submetido: “Tire esse objetivo infame da minha frente”. 
Estamos atrasados? “Se estivéssemos na Alemanha já teríamos perdido o trem.” 


Fonte: Opera Mundi