Alguns setores da economia brasileira divulgaram dados positivos do último semestre de 2015 em relação ao ano passado. São notícias boas, que raramente ganham destaque na mídia tradicional, mais interessada em amplificar o cenário de crise. Viralizou nas redes sociais um
artigo do cineasta Pablo Villaça, em que ele ironiza a forma como os colunistas e articulistas políticos da tevê e grandes jornais tratam a crise econômica. Em sua postagem ele lista dezenas de notícias que recebem pouquíssimo destaque e, "apesar da crise", sinalizam para um cenário bem menos tenebroso que o que vem sendo pintado pelos mais conhecidos comentaristas econômicos brasileiros.
No comércio, por exemplo, a rede de lojas Riachuelo e a marca de calçados Grendene apresentaram perspectivas otimistas para 2015. Dona de um faturamento de R$ 7 bilhões anuais, a Riachuelo deverá abrir mais 40 lojas até o final do ano, já a Grendene teve aumento no lucro de 32,4% no primeiro semestre, atingindo R$ 223,7 milhões, segundo balanço divulgado no dia 24 de julho. No comércio, o varejo em São Paulo foi o único segmento que registrou crescimento de emprego, segundo a Fundação Sistema Estadual de Análise de Dados (Seade).
Cinemas, viagens aéreas e hotéis também tiveram bom desempenho. O semestre contabilizou o maior crescimento do setor de cinemas, com aumento de 5% no público e 12,5% na bilheteria. As viagens de avião pelo país tiveram alta de 3,8% e as viagens internacionais tiveram um aumento ainda mais expressivo: de 13,1%, segundo a Associação Brasileira de Empresas Aéreas (Abear). As empresas avaliadas no levantamento são Tam, Gol, Avianca e Azul. No ramo de hotéis, a rede executiva Pullman, do grupo Accor Hotels, comemorou saldo positivo nos registros do último semestre.
O setor industrial, um dos mais afetados pela crise, também vem dando sinais de recuperação. Segundo relatório da FGV, a confiança dos empresários da indústria no Brasil teve a primeira alta em cinco meses, com crescimento de 0,6%. No Mato Grosso do Sul, a federação das indústrias do estado (FIEMS) informou que irá investir R$ 34 bilhões em 10 municípios do estado, com ampliação das indústrias de celulose. E, apesar da má fase do setor automotivo, as montadoras não planejam desacelerar os investimentos. Segundo a Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), os planos de negócios da Ford e da FCA (Ford Chrysler Automobile) estão garantidos até 2016.
A Toyota do Brasil comemorou um crescimento das vendas de 3% no semestre. E, nesta semana, a GM anunciou investimentos da ordem de R$ 13 bilhões na criação de uma nova família de automóveis para o mercado – anúncio realizado quase que simultaneamente ao comunicado de 519 demissões de sua unidade de São Caetano do Sul, em São Paulo, alegando que os cortes se deviam a uma reformulação necessária provocada pela crise econômica. Os demitidos estão há quase 20 dias acampados em frente à fábrica sem nenhum sinal de negociação à vista.
A multinacional alemã ThyssenKrupp, que atua em diversos setores da economia no país (aço, elevadores e autopeças), manterá inalterados os investimentos da ordem de R$ 2 bi previstos até 2020, conforme declarou ao jornal Valor Econômico o presidente mundial do grupo, Heinrich Hiesinger. A atividade do porto de Santos também está aquecida. Neste primeiro semestre, a movimentação de cargas registrou um aumento de 4,4% em relação ao mesmo período do ano passado - um recorde histórico para um primeiro semestre, batendo o ano de 2013.
No campo dos investimentos, é para se comemorar a informação divulgada na Conferência das Nações Unidas sobre o Comércio e o Desenvolvimento (CNUCD), que se realizou na Etiópia este mês: o Brasil subiu duas posições e terminou 2014 como o 5º maior destino de investimentos estrangeiros diretos no mundo, superando todos os países europeus. O volume de recursos estrangeiros investidos no Brasil teve uma queda de 4% entre 2013 e 2014 – índice leve se levarmos em conta a redução de 8% (o dobro!) ocorrida nos países europeus, segundo o estudo da ONU.
Natália Rangel - Portal CTB