segunda-feira, 30 de julho de 2018

Oxfam esmiúça machismo entre jovens da América Latina e Caribe

 
por Tatiana Carlotti

Focado exclusivamente em jovens, entre 15 a 25 anos, o estudo 'Rompendo Padrões: Transformar imaginários e normas sociais para eliminar a violência contra as mulheres' analisa a violência machista entre jovens de oito países: Bolívia, El Salvador, Colômbia, Cuba, Guatemala, Honduras, Nicarágua e República Dominicana.

A Oxfam lançou, na última semana (25 de julho), importante contribuição ao combate à violência contra a mulher na América Latina e no Caribe. Focado exclusivamente em jovens, entre 15 a 25 anos, o estudo “Rompendo Padrões: Transformar imaginários e normas sociais para eliminar a violência contra as mulheres” analisa a violência machista entre jovens de oito países: Bolívia, El Salvador, Colômbia, Cuba, Guatemala, Honduras, Nicarágua e República Dominicana.

Em quase todos esses países, registram-se avanços nos índices de violência e feminicídios, mas eles estão muito longe de serem suficientes. Em 2016, na América Latina e no Caribe, 1.831 mulheres foram assassinadas pelo fato de serem mulheres. Segundo os jovens (entre 20 e 35 anos) que participaram do estudo, 56% dos homens e 48% das mulheres disseram ter conhecimento de casos de violência contra a mulher no último ano. 
Esmiuçando o imaginário e as normais sociais, a pesquisa identifica a naturalização da violência machista. Mostra, por exemplo, como a ideia do amor romântico entre os jovens pode ser nociva. Seis entre cada dez homens, de 15 a 19 anos, acreditam que o ciúmes é uma demonstração de amor. “É fundamental que mulheres e homens jovens possam problematizar o amor romântico e construir relações amorosas igualitárias”, alerta o texto. 
A impunidade vem sendo fortalecida pela tendência de se considerar 'normal' atos de violência contra mulheres e meninas. Entre os entrevistados, 65% afirmam que quando uma mulher diz “não” para uma relação sexual, está querendo dizer “sim”. Sete entre 10, inclusive, atribuem a responsabilidade de agressão sexual às próprias mulheres, devido à roupa que elas usam. 

 O relatório é categórico: precisamos “transformar os imaginários e as normas sociais nocivas”, assumindo que “crenças e comportamentos construídos na chave machista, sexista e racista são parte das causas estruturais das desigualdades que alimentam as violências contra as mulheres”.
Segundo Damaris Ruiz, coordenadora de direitos das mulheres da Oxfam na América Latina e Caribe, essa “normalização do machismo cotidiano muitas vezes termina com as piores consequências. Prova disso são as 1.831 mulheres assassinadas em 2016 sem motivo outro que seu gênero, de acordo com dados da Cepal. Sabemos que isso pode e está mudando, e devemos apoiar os jovens nessa transformação para que vivam livres da violência de gênero". 
Confira aqui a íntegra do relatório.
Fonte: Carta Maior

Ciro: Manuela seria boa presidenta, ainda mais uma boa vice. "É RUIM! MANUELA E O BRASIL, JUNTOS!" - EDUARDO VASCONCELOS


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Foto: Google
O candidato do PDT à Presidência, porém, diz ainda que "não pode pedir o apoio de Manuela em público".
Buscando allianças com PC do B e PSB para evitar isolamento na disputa presidencial, o candidato Ciro Gomes (PDT) elogiou Manuela D’Avila (PCdoB), cuja candidatura pode vir a ser negociada ainda no primeiro turno. Para Ciro, Manuela tem feito um papel brilhante e seria “uma boa presidenta, quanto mais uma boa vice”, afirmou o pedetista neste domingo (29), em São Paulo.

Para o candidato do PDT,  “o único defeito da Manuela, tenho dito a ela com muito carinho, é a juventude. Nada que o tempo não resolva”, continuou. Em entrevista antes de um debate sobre ciência no Brasil, o candidato ponderou, porém, que não pode “desejar em público o apoio do PC do B, porque tem uma candidata respeitabilíssima”.

Ele preferiu não comentar a declaração do petista Fernando Haddad, segundo quem se não houvesse insegurança jurídica na candidatura de Lula (PT), a esquerda estaria unificada a seu redor. De acordo com Ciro, seria apenas dar munição a “manchetes fictícias da imprensa sobre o assunto”.

Ciro disse que seções estaduais do PSB “já deram 150 sinalizações, nos estados de RS, MG, ES, DF, PB”, mas reconheceu que o impasse permanece. O PDT “já adiantou os peões”, disse Ciro, e formalizou apoio a candidatos a governador do PSB “de boa fé, esperando que isso facilite os entendimentos internos”. Os pessebistas apoiados são Renato Casagrande, no ES,, Rodrigo Rollemberg, no DF, e Márcio França, em SP.


Fonte: Revista FÓRUM

domingo, 29 de julho de 2018

Cantanhêde joga a toalha. É “alguém” contra o nome de Lula, no segundo turno. Por Fernando Brito

Eliane Cantanhêde
Publicado originalmente no Tijolaço
POR FERNANDO BRITO
A inefável Eliane Cantanhêde, no Estadão de hoje, joga a toalha e admite que a eleição “embicou para três candidatos principais: o sr. X do PT, a ser definido, mas já com a força eleitoral do ex-presidente Lula, contra Jair Bolsonaro, do PSL, ou Geraldo Alckmin, do PSDB”.

E afirma que “isso projeta um segundo turno entre esquerda e direita e uma guerra entre Bolsonaro e Alckmin para ver quem chega lá contra o PT”.
Isso, claro, porque a ex-colunista da “massa cheirosa” conta como certa a ausência do nome de Lula na urna eletrônica, pois aí nem segundo turno haveria.
O interessante – e isto é o relevante – vem a ser o duelo que ela vê entre os dois candidatos da direita: “Alckmin terá uma arma poderosa: 40 vezes mais tempo de TV. Mas Bolsonaro tem o mais moderno arsenal de campanhas: as redes sociais”.
Cantanhêde manifesta suas dúvidas de que Bolsonaro possa ser, simplesmente, aniquilado. E sugere a Alckmin um estratégia em que, como o ex-capitão não conquistou o eleitorado feminino, ele o possa conseguir, com o curioso “marketing” do “olha o que fizeram com a Dilma”.
Alckmin tem de convencer a D. Maria e a Mariazinha da importância de ter dez partidos, tempo de TV e força política. Presidentes sem sólida liderança no Congresso não têm governabilidade, não aprovam projetos fundamentais e ficam sujeitos até a ameaças de impeachment.
Dona Maria e Mariazinha, claro, são a visão “moderna” que este pessoal tem das mulheres, embora eu não vá cometer a grosseria de chamar a colunista de “Dona Maria”.
O fato é que ela percebe o discurso disponível para Alckmin é o do “os políticos estão comigo”, o que está em absoluta contradição com a ideia de “rejeição à política” com que todo o establishment trabalhou estes longos anos.
Creio, porém, que a natureza da disputa acabará por se evidenciar e a realidade é que competem pela “missão” de derrotar Lula.
Que, no fundo de uma cela, não arrasta grilhões, mas multidões, como a que se viu ontem, na Lapa.
Fonte: Diário do Centro do Mundo - DCM

Por que Gil finalmente cantou “Cálice”, música de que nunca gostou

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Foto: Google - Gilberto Gil
O que há de tão forte na pauta do "Lula Livre" que faz um homem como o Gil – acima de qualquer suspeita, eleitor da Marina Silva – enfrentar seus próprios demônios e cantar uma música que o incomoda tanto?
Por Breno Góes, originalmente publicado no DCM – Gilberto Gil já repetiu em dezenas de entrevistas (eu tenho a pretensão de ter lido boa parte das que ele já deu) uma mesma informação: a única música do seu repertório de mais de 500 que ele não gosta de cantar é “Cálice”, uma parceria sua com Chico Buarque que ele sintomaticamente jamais gravou. Gil diz que fica incomodado por que a música é “tristonha” (link pra uma dessas entrevistas nos comentários). Nunca vi ele com esse tipo de ojeriza de qualquer outra canção que tivesse composto.
Faz sentido, quando paramos para pensar. O Gil é conhecido por uma poética que preza por uma postura de aceitação filosófica e equilíbrio diante da dor e das coisas ruins da vida, bem como diante das coisas boas e felizes. Por um lado, mesmo na lindíssima e alegríssima “Toda Menina Baiana”, que Gil compôs pra uma de suas filhas, ele fez questão de lembrar que “toda menina baiana tem defeitos também”. Por outro, ele pode ter escrito canções de alguma forma doídas (aí está “Drão”, que não me deixa mentir), mas mesmo essas suas músicas quase sempre tem um viés de enxergar o lado bom de uma situação ruim: pensemos na dor da separação que vira pão na própria “Drão”, no “êêêê” animado que quebra a tragédia no final do “Domingo no Parque” ou na empolgação que atravessa “Aquele Abraço”, a canção do exílio mais festiva e carnavalesca da história (e também a mais bonita).
Isso pra ficar só nas mais famosas. Em Gil, a tristeza vem sempre temperada de felicidade e vice-versa… quase sempre. Que eu saiba, em dois significativos momentos essa lógica é rompida: “Pé da Roseira” (não tão conhecida mas maravilhosa, de 1968) e “Cálice” (composta em 1973, lançada em 1978). São canções TRISTES em que a dor, a impotência e o desespero imperam, sem que nenhuma filosofia venha equilibrar as coisas. O “Pé da Roseira” é o desespero no âmbito privado, diante do fim do amor. O “Cálice” é o desespero público, diante do estado do mundo.
Quando Chico Buarque quis gravar o Cálice, teve que chamar o Milton Nascimento e o MPB-4, porque o Gil não quis embarcar naquela canção barra-pesada em que o substantivo “cálice” vira o verbo “cale-se” e algumas imagens poderosamente desamparadas são cantadas (“como beber dessa bebida amarga, tragar a dor, engolir a labuta?”, diz um dos versos mais tristes da língua portuguesa) em um diálogo com o “Pai”, a primeira e mais opressiva das pessoas da Santíssima Trindade. Era toda a depressão do regime oriundo do golpe civil-militar de 1964 sintetizada em quatro estrofes e um refrão inesquecível.
Isso me faz pensar no seguinte: todo o Brasil que se leva a sério enquanto tal tem que começar hoje a debater por que motivo Gil decidiu desobedecer ontem as suas convicções e cantar Cálice ao lado do Chico Buarque num ato na Lapa pela liberdade do Lula. O que há de tão forte na pauta do “Lula Livre” que faz um homem como o Gil – respeitado e amado por todos, venerável e acima de qualquer suspeita, eleitor da Marina Silva – enfrentar seus próprios demônios e cantar uma música que o incomoda tanto?
Ou, pior ainda: o que será que esse cara está vendo no momento atual do mundo que o moveu a cantar versos tão absurdamente “tristonhos”? Mermão, o Gilberto Gil é o cara do “A Paz”, o cara do “A Novidade”… Ele tem várias canções igualmente políticas muito mais amenas que seriam adequadas para um comício. Tem inclusive uma outra parceria com o Chico muito bonita e sutilmente crítica ao capitalismo, que é a “Baticum”.
Mas ontem ele decidiu dizer pro povo que quer “lançar um grito desumano, que é uma maneira de ser escutado”. Ele mandou o cálice. Isso é imenso, e muito pesado. Digo e repito: todo mundo que tem o mínimo de juízo na cabeça tem que tirar uns momentos hoje pra pensar por que motivo o Gilberto Gil finalmente decidiu cantar o Cálice. É uma pergunta difícil pra todos nós, porque a resposta é quase com certeza muito dolorida. Melhor seria ser filho de outra realidade menos morta, sem tanta mentira e tanta força bruta.
Fonte: Revista Fórum

“Há um grupo político no Rio de Janeiro capaz de matar”, diz Marcelo Freixo

Freixo: “Eu comecei a sofrer ameaças de morte anteriormente à CPI das Milícias, por conta de denúncias feitas na Assembleia Legislativa” – Foto: Reprodução/Facebook Marcelo Freixo
Para o deputado do PSOL, a CPI das Milícias mudou a opinião pública do Rio, pois em 2008 esses grupos eram vistos como um mal menor. “O Bolsonaro defendia a legalização das milícias”, relembra.
A intervenção militar no Rio de Janeiro, que começou em fevereiro, não obteve êxito no combate à insegurança e ainda provocou o aumento da violência. A opinião é do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL), que converge com a conclusão da Comissão Popular da Verdade. A instituição divulgou, nesta semana, relatório denunciando a situação. O número de tiroteios cresceu 60% nos meses de intervenção, somando 4.005 registros em 2018. Freixo tem uma longa trajetória de luta pelo combate à violência e em defesa dos direitos humanos. Ele analisa, com exclusividade para a Fórum, o cenário de violência no Rio e as consequências da intervenção militar.
Fórum – Como avalia o panorama atual da ação da violência e dos ataques aos direitos humanos no Rio de Janeiro?
Marcelo Freixo – O Brasil é um dos lugares mais violentos do mundo para os defensores dos direitos humanos. Foram 57 defensores dos direitos humanos assassinados no ano passado. É um número superior a Filipinas, que teve 48, e Colômbia, com 25. Então, ser defensor dos direitos humanos no Brasil é um risco. Isso não é à toa, se dá pelo crescimento da violência no Estado. É um país muito desigual, onde quem defende as vítimas da violência sofre com a mesma violência. Esse é um sintoma da crise profunda da nossa democracia. Em relação à segurança pública, o mapa do Ipea é muito revelador nesse sentido. A desigualdade no Brasil se mede com a letalidade. A desigualdade não se dá só em quem não tem acesso à saúde, quem tem educação de qualidade ou não, quem tem casa ou não tem casa. A desigualdade marca, também, quem vive e quem não vive, quem é pessoa e quem não é pessoa, quem tem direito a ser humano e quem não tem direito a ser humano. Isso é, sem dúvida, a ponta mais aguda da crise da democracia que o Brasil vive.
Fórum – Houve alguma mudança significativa depois da decretação da intervenção militar no Rio?  
Marcelo Freixo – Houve mudanças negativas. A intervenção militar é uma invenção de um governo ilegítimo, que bola uma intervenção militar sem precedente constitucional, durante o Carnaval, fruto de um Carnaval politizado, de escolas de samba que criticam o governo. É o motivo mais torpe que vi como motivação de uma interferência na segurança pública. Não há planejamento. Os militares são pegos de surpresa e se monta uma operação caríssima, ao custo de 3 bilhões de dólares, a exemplo do que ocorreu na Maré, em 2014 para 2015, onde tivemos uma ocupação militar de 15 meses, que custou R$ 600 milhões. Vale a pena olhar o que a Maré é hoje, qual foi o resultado dessa operação, o gasto de R$ 600 milhões na Maré, o quanto isso não seria mais útil em qualquer outro investimento social, educação, saúde ou saneamento. Então, essa intervenção militar é uma fantasia, de um governo que é uma fantasia de horrores. Não tem a menor chance. Todos os índices de segurança pioraram. Há uma queda de apreensão de fuzis. Nós sabemos muito bem que a segurança pública do Rio depende de investimentos na inteligência. Se 10% desse valor da intervenção fossem destinados a serviços de inteligência, o próprio Exército pode contribuir, o resultado seria muito melhor.
Fórum – Você comandou a CPI das Milícias, em 2008, oportunidade na qual teve o auxílio de Marielle Franco nessa luta. Qual o saldo da CPI e o que mudou de lá até os dias de hoje?
Marcelo Freixo – A Marielle trabalhou comigo dez anos, não só na CPI. Ela foi assessora por dez anos e só saiu daqui para ser vereadora. Do PSOL, ela é uma das mais votadas da cidade. Coordenou a comissão dos direitos humanos, mas a época da CPI foi no início do primeiro mandato. Marielle ainda era muito jovem, tinha 29 anos. Então, evidente que nós poupamos os mais jovens de uma CPI que colocou minha vida em risco. Mas a CPI teve um resultado extraordinário, porque mudou a opinião pública no Rio sobre milícia. Naquele momento, a milícia era vista como um mal menor, e defendida. O Bolsonaro, por exemplo, em 2008, no mesmo ano que eu fiz a CPI, ele defendia a legalização das milícias. O relatório da CPI indiciou mais de 200 milicianos, entre eles deputados e vereadores. Isso gerou a prisão de todos eles. Todos os líderes de milícias foram presos, alguns estão presos até hoje, já com uma pena de dez anos. Mas milícia é máfia, e máfia é uma estrutura de poder de dominação de territórios e atividades econômicas muito lucrativas. E, assim como qualquer máfia, não é só a prisão que resolve. É preciso tirar território e tirar poder político delas. Isso não foi feito pelos governos, que acabaram se alimentando do poder eleitoral que a milícia tem. A milícia é um grupo criminoso, que transfere seu poder territorial para um domínio eleitoral. Nenhum outro grupo criminoso faz isso. Então, a milícia é uma ameaça ainda maior à democracia, aos territórios do Rio de Janeiro. O grande debate sobre segurança pública no Rio é controle de território, muito mais do que as atividades econômicas do crime em si.
Fórum – O que acha das investigações sobre os assassinatos de Marielle e Anderson, que até agora não apontaram criminosos e mandantes?
Marcelo Freixo – O crime da Marielle é o mais sofisticado da história do Rio de Janeiro. É um crime feito por gente que tem dinheiro e poder. A Marielle não foi morta por qualquer motivação. Então, a vida da Marielle não valia mais do que a vida de ninguém. Mas o crime contra ela é um crime contra o Estado, contra a democracia, contra a luta por um país mais justo. Por isso, tem que ser desvendado de qualquer maneira. Existem vários grupos de investigação dentro da polícia. Tem linhas de investigação que estão avançando, mas, evidentemente, não é o tempo da nossa angústia. A gente quer que esse caso seja resolvido logo e é muito importante a pressão que a sociedade civil tem feito, a Anistia Internacional, familiares, amigos, as passeatas, isso tem que acontecer. Mas a gente sabe que a investigação está acontecendo. É um crime caro, sofisticado e feito pela política. Há um grupo político no Rio de Janeiro capaz de matar. Isso a gente não pode aceitar em pleno século 21, em um lugar como o Rio.
Para o deputado Marcelo Freixo, o crime da Marielle é o mais sofisticado da história do Rio de Janeiro. “É um crime feito por gente que tem dinheiro e poder” – Foto: Reprodução/Facebook Marcelo Freixo
Fórum – Você sofreu muitas ameaças de morte. Essa situação ainda perdura?
Marcelo Freixo – Eu comecei a sofrer ameaças de morte anteriormente à CPI das Milícias, por conta de denúncias feitas na Assembleia Legislativa. Durante a CPI, com o resultado que teve, essas ameaças se tornaram estruturais, monitoradas pela Secretaria de Segurança. Esses documentos chegarem até mim. São muitas as ameaças. Depois do caso da juíza Patrícia Acioli, brutalmente assassinada no Rio de Janeiro, essas ameaças pioraram. Eu ando com proteção e segurança há dez anos. Não é um privilégio, é um nível de sacrifício na vida pessoal muito grande, mas não me arrependo de nada que fiz. É um caminho sem volta. Acho que lutar por direitos humanos no Rio de Janeiro e no Brasil, hoje, é ter riscos. Mas, sem essa luta, não vai haver avanço na democracia.
Fórum – Qual a influência da indústria do narcotráfico nesse caldeirão que desencadeia na violência?
Marcelo Freixo – O narcotráfico e o tráfico de armas andam juntos. É o tráfico internacional. O problema é que a gente não prende quem a gente investiga, porque a gente não investiga. A taxa de esclarecimento de homicídios no Brasil é de 4%. A gente prende quem a gente vigia e a gente vigia quem está fora dos circuitos de direitos. Muita gente vigia quem mora na periferia, quem mora na favela, é de lá que vem nossas prisões. O Brasil já tem a terceira população carcerária do mundo, são mais de 700 mil presos. A maior taxa de crescimento carcerário do planeta. A gente só perde para Estados Unidos e China. Então, evidentemente, o tráfico de armas e de drogas tem uma relação direta com a violência, mas não pelas atividades em si, mas porque aqui acaba gerando uma cidade mais desigual, uma cidade de territórios leiloados e controlados por outros grupos. Isso reflete uma cidade desigual, uma cidade que é para muito poucos. O Rio de Janeiro é um dos lugares mais desiguais do mundo e o debate da legalização das drogas tem que acontecer relacionado a uma estrutura de poder. Ninguém pensa, por exemplo, em criminalizar o álcool, como foi na década de 30, em Chicago. E o álcool é um problema social, um problema de saúde muito grande. Descriminalizar as drogas e pensar em uma escala de drogas descriminalizadas e legalizadas, em um plano de redução da violência, de ampliação de atendimento da saúde é, sem dúvida alguma, uma tarefa muito importante. Mas tudo isso tem que ser acompanhado de cidades mais justas e territórios reconquistados para o aspecto da cidadania. Sem isso, a gente não avança nos índices de violência.
Fórum – A proibição das drogas fortalece o crime organizado?
Marcelo Freixo – A proibição das drogas fortalece o crime organizado e isso vem acontecendo no mundo inteiro. Não é à toa que boa parte do mundo hoje, inclusive os Estados Unidos, rediscute o papel das drogas, porque a criminalização serviu para o aumento do consumo, para o aumento da violência e para o fortalecimento do comércio das armas e munições. Então, a gente precisa pensar a questão das drogas à luz de um debate de segurança e saúde públicas. Aliás, o debate de segurança pública é sempre um debate de saúde, porque tem que ser sobre o direito à vida. É isso que falta, muitas vezes, na cabeça política de quem nos governa.
Fórum – Quais são os problemas centrais em relação à violência e o que fazer para minimizar o cenário atual do Rio?
Marcelo Freixo – Todas as facções criminosas, no Brasil, são criadas dentro do sistema prisional. Nenhuma facção criminosa foi criada em favela. E esse sistema criminal é completamente vinculado à ideia de detenção da pobreza. Não há qualquer compromisso com ressocialização, com reintegração à sociedade. Menos de 10% dos presos estudam, menos de 10% trabalham. São prisões de jovens, negros, pobres, de baixa escolaridade, que consolidam uma sociedade ainda mais desigual. Essa é a função do sistema prisional. Então, nesse sentido, não há uma perspectiva diferente do sistema prisional, que não a punição da pobreza. É disso que a gente está falando. A solução para as cidades é repensar o sistema prisional à luz de uma justiça criminal que possa estar acompanhada de um sistema de justiça social mais profundo, mas, principalmente, debater a relação de territórios. Hoje, milícia, tráfico, o varejo da droga se alimentam de territórios que não interessam a um projeto de cidades, de populações que não interessam à sociedade de mercado, de setores da sociedade que não interessam ao rentismo e de cidades que são, na verdade, grandes polos de desigualdade. Hoje, as cidades se muram para proteger o medo que vem de dentro. É preciso que a busca pela segurança pública não seja a equação entre medo e proteção, ampliando a desigualdade. Então, que a gente possa rever a situação de território com modelos de cidades que possam ser mais inclusivas. Isso envolve sistema de transportes, de moradia, distribuição de renda e está diretamente relacionado a uma cidade mais segura, que tem que ser uma sociedade com mais direitos.
Fonte: REVISTA FÓRUM

quinta-feira, 26 de julho de 2018

HELENA SEVERO PRESIDENTE DA BIBLIOTECA NACIONAL RECEBEU HOJE (26), EDUARDO VASCONCELOS, PRESIDENTE DO CPC/RN






Hoje (26), Eduardo Vasconcelos, presidente do Centro Potiguar de Cultura - CPC/RN, foi recebido em audiência pela presidente da Biblioteca Nacional, sede matriz no Rio de Janeiro, a professora HELENA SEVERO.  Cujo objetivo foi a exposição feita pelo Eduardo sobre o Projeto da Biblioteca, denominada de "Se o estudante não vai a biblioteca, a biblioteca vai ao estudante".

Eduardo Vasconcelos também ouviu da professora, Helena Severo as informações e explicações das ações desenvolvidas pela Biblioteca Nacional e que apesar das dificuldades, irá sim apoiar a ideia do CPC/RN e que após levar ao conhecimento aos demais diretores/coordenadores enviará um acervo de livros e revistas para colaborar com o projeto. O que Eduardo, logo agradeceu.

"Esse projeto está em fase de análise e adequação, pois em uma próxima fase parceiros irão criar uma "arca volante, que após pronta segurá uma agenda para aos poucos chegar aos interiores (escolas), ficarão em exposição uma dia e neste mesmo dia emprestará-os aqueles alunos que se prontificarem a após lê-lo devolvê-lo em prazo de 10 (dez) dias."  Mais detalhes brevemente no lançamento do projeto." Explicou Eduardo Vasconcelos a presidente da Biblioteca Nacional, Helena Severo.

Fotos: Patricia - Biblioteca Nacional

EDUARDO VASCONCELOS - CPC/RN FOI RECEBIDO ONTEM (25) PELA DIREÇÃO DA FUNARTE NO RIO DE JANEIRO


 Da esquerda para a direita: Paulo Grijó Gualberto, Coordenador Geral, Stepan Nercessian, Presidente, Eduardo Vasconcelos - CPC/RN e Ginaldo de Souza, diretor do Centro de Artes Cênicas da FUNARTE

Ontem (25), o presidente do Centro Potiguar de Cultura - CPC/RN, EDUARDO VASCONCELOS foi recebido pela base da executiva da FUNARTE no Rio de Janeiro, cujo objetivo foi para relatar os projetos, anseios e apoio para suas realizações.  Após a explanação de Eduardo o presidente se propôs a analisar, mas garantiu diante mão apoiar a iniciativa do CPC/RN, deixando claro que a FUNARTE apoiará, pedindo inclusive que os diretores presentes, Sten Nercessian e Ginaldo de Souza para estudarem formars legais, claro logo após o período eleitora para ajudar e apoiar os referidos projetos, como CINEMA NA PRAÇA/ESCOLA, Biblioteca, entre outros.

Eduardo Vasconcelos se comprometeu a enviar documentos detalhando os projetos para serem analisados pela equipe técnica e apoio. SÃO SONHOS QUE TORNARÃO REALIDADE!

No final, Eduardo Vasconcelos agradeceu, o apoio e solidariedade do nobres diretores. Eduardo adianta que próxima semana se reunirá com artistas e diretores do CPC/RN para repassar detalhadamente o teor da reunião e deliberar os próximo eventos do CPC/RnN previsto parra o final de agosto/setembro.

Hoje (26) estará será recebido pela presidenta da Biblioteca Nacional, HELENA SEVERO!

sábado, 21 de julho de 2018

Cria de Severino Cavalcanti pode vir a ser novo presidente de fato do Brasil

Severino Cavalcanti e Ciro Nogueira. Foto José Cruz/ABr


Na ânsia de chegar ao segundo turno e tentar vencer Lula ou quem ele vier a indicar, Alckmin e Ciro brigaram até ontem pelos votos do chamado Centrão, apelido guloso no aumentativo da direita fisiológica.

Ciro perdeu mais uma. O Centrão escolheu Alckmin, mesmo com todos os acenos de Ciro Gomes ao DEM e ao PP. Com isso, o Chuchu, que já tinha bom tempo de TV, parte com seu agora latifúndio para desidratar Bolsonaro e chegar ao segundo turno com Lula ou o candidato do Lula.

Para conseguir o Centrão, Alckmin ofereceu mundos e fundos (nossos fundos...). A recondução de Rodrigo Maia à presidência da Câmara. Maia é aquele que disse que deputados não estão ali para fazer as vontades do povo. E disse também que é escravo do mercado. A presidência do Senado vai para as mãos de Ciro, mas não o Gomes, o Ciro Nogueira, aquele senador que tinha R$ 200 mil em dinheiro guardados em casa, como constatou operação da PF que vasculhou uma de suas residências.

Resumindo: como Temer hoje, Alckmin iria para a presidência, caso vença as eleições, refém do Centrão, num parlamentarismo que não ousa dizer o nome, sob comando de Ciro Nogueira, afilhado político do ex-deputado Severino Cavalcanti [os dois na imagem da postagem].

Quem não se recorda do folclórico Severino Cavalcanti, que caiu na presidência da Câmara numa briga pelo poder entre PT e oposição? Líder do chamado baixo clero, Severino era curto e grosso nas suas reivindicações ("quero uma diretoria da Petrobras, mas uma daquelas que fura poço").

Durou pouco, mas foi substituído por seu pupilo e sucessor, Ciro Nogueira, que quer a mesma coisa que ele, mas não comete a besteira de falar isso em público - só no privado, nos bastidores palacianos. É um Severino repaginado. Seu partido, o PP, tomou conta da Petrobras e, enquanto a mídia e Moro focam a corrupção dentro da Petrobras no PT, o PP é o partido com mais envolvidos nos esquemas da Petrobras.

E esse Severino repaginado pode ser o comandante do parlamentarismo que não ousa dizer o nome em que pode se transformar o país, com uma vitória de Alckmin. 

Fonte: https://blogdomello.blogspot.com/2018/07/cria-de-severino-cavalcanti-pode-vir-a-ser-novo-presidente-de-fato-do-brasil.html

O grande dilema, por Paulo Nogueira Batista Jr.

A política fiscal não pode ser hostil ao crescimento. Ao contrário, deve favorecê-lo, mas sem abandonar a disciplina
Com quais problemas macroeconômicos se defronta o Brasil? Com dois, fundamentalmente: o desemprego e as finanças públicas. O governo atual nada mais fará, a não ser agravá-los. Mas e o próximo? Os dois problemas são graves, e o pior é que a solução do segundo agrava o primeiro. O corte de gastos ou o aumento dos impostos deprime ainda mais a atividade econômica e o emprego. Este é o grande dilema.
O que fazer? Um bom começo é não se iludir. Há algum tempo, era popular entre economistas ortodoxos a aposta no oximoro “contração fiscal expansionista”. Um governo com força política, especialmente em início de mandato, deveria tomar medidas drásticas de diminuição de despesas e aumento de receitas.
Esse choque fiscal restauraria a confiança, levando à expansão compensatória do consumo e do investimento privados, que neutralizaria o efeito contracionista do ajuste das contas. Se tudo corresse bem, o choque fiscal terminaria sendo expansionista. Não existiria, portanto, o “grande dilema”.
Foi o caminho que se tentou em 2015, depois da última eleição presidencial. Não funcionou, como se sabe. E não só no Brasil. A experiência internacional desacreditou a “contração expansionista”. O efeito confiança existe, sim, e não deve ser desprezado, mas ele é incerto quanto à magnitude e pode demorar a se materializar.
Já os efeitos contracionistas do choque fiscal sobre a demanda se fazem sentir imediatamente e com força. Estudos recentes do FMI mostraram, até mesmo, que os multiplicadores associados à contração fiscal costumam ser mais elevados em economias estagnadas ou em recessão.
Economistas heterodoxos também têm suas ilusões, entre elas a de que o crescimento econômico resolve a questão fiscal. A recuperação da economia exigiria, argumenta-se, estímulo fiscal (expansão do gasto ou diminuição de tributos). Mas a expansão fiscal se viabilizaria por meio de seus efeitos favoráveis sobre a atividade e o emprego e, indiretamente, sobre as receitas e despesas públicas. Para estes economistas, também não existiria o “grande dilema”.
O argumento é irrealista. Só se sustenta com suposições extravagantes sobre o tamanho dos multiplicadores keynesianos e da elasticidade da receita em relação ao produto. Não leva em conta, além disso, o impacto adverso da expansão fiscal, em condições de fragilidade fiscal, sobre a confiança e as taxas de juro de médio e longo prazos.
Há alguma verdade dos dois lados. Têm razão os heterodoxos quando dizem que, sem crescimento econômico, é difícil, talvez impossível, equacionar a questão fiscal. E têm razão os ortodoxos quando insistem que é essencial preservar a confiança na política fiscal. Chegamos assim a um preceito aristotélico que eu, quando mais jovem, considerava um tédio total: “A virtude está no meio”.
O que tudo isso significa em termos práticos? Primeiro, a política fiscal não deve ser hostil ao crescimento. Ao contrário, deve favorecê-lo na medida do possível. Não cabe começar, portanto, com uma política fiscal contracionista em 2019.
Mas deve haver compromisso inequívoco com disciplina fiscal e equilíbrio das contas a médio e longo prazos.Medidas para garantir esse equilíbrio devem ser tomadas logo no início do governo, inclusive na área previdenciária.
Para assegurar a credibilidade de uma política fiscal desse tipo, a solução clássica é introduzir regras fiscais críveis, que ancorem as expectativas em relação aos resultados fiscais. As regras existentes (teto do gasto, regra de ouro e meta para o resultado primário) não cumprem esse objetivo e precisariam ser abandonadas ou reformuladas.
E como ficaria a questão do emprego? De onde viria o impulso para reativar a produção? Em condições de fragilidade fiscal, o impulso teria de vir de uma mudança na composição da política fiscal e dos determinantes não fiscais do consumo, do investimento agregado e das exportações líquidas.
Tornar a política fiscal mais amigável ao crescimento não é fácil na prática, mas significa favorecer gastos com multiplicadores elevados sobre atividade e emprego (infraestrutura, construção, transferências para setores de baixa renda) e mudar a composição da tributação para aumentar a renda disponível de setores de baixa renda (com maior propensão marginal a consumir) e diminuir a renda disponível dos setores de renda mais alta.
Com a alavanca fiscal travada, seria preciso recorrer às políticas monetária, cambial e de crédito. O espaço não permite entrar em detalhes. Lembro apenas que, dada a estrutura da dívida pública, a combinação juros moderados/câmbio depreciado, além de ajudar a retomada da economia, favorece o equilíbrio das contas públicas.
Releio o que escrevi. Bela estratégia. Lembrei, porém, do Garrincha: “Já combinou com os russos?”
Fonte: WALTER SORRENTINO

Ousadia na economia, por André Araujo

Por Walter Sorrentino
Após a Grande Depressão iniciada com a crise da Bolsa de Nova York, em outubro de 1929, duas grandes escolas passaram a dominar o pensamento econômico no mundo capitalista.
Uma escola, a clássica ou ortodoxa, via o Estado como simples garantidor das regras básicas de econômica de mercado e de executor das funções naturais do Estado como defesa e justiça.
Outra escola, nascida após 1930, mas com raízes antigas no Estado mercantilista francês que comandava a economia, via no Estado mais que um garantidor neutro, aceitava o Estado como impulsionador e indutor da economia especialmente nos momentos de crise dos mercados, e também um Estado que amparava os órfãos do capitalismo, os miseráveis, carentes, doentes, idosos e fracassados, incapazes por deficiências naturais de competir e vencer.
As duas concepções com inúmeras variáveis de tempo e espaço estão presentes até hoje na definição dos grandes modelos de politica econômica, mas com interações, reconfigurações e combinações especiais em cada País e situação, como, por exemplo, na China.
O modelo clássico perdeu força e prestígio após a Grande Guerra de 1914 porque a ruptura social dela decorrente exigiu um Estado muito mais presente do que no século anterior de grande expansão livre do capitalismo imperial. Com as misérias provocadas pela Grande Guerra, nasceu um Estado intervencionista para reerguer das ruínas sociedades dizimadas pela guerra ao mesmo tempo em que o modelo ortodoxo ainda dominava os Estados Unidos e Inglaterra, que sofreram menor destruição no conflito.
A crise de 1929 desmontou a lógica do modelo clássico porque a solução da crise REQUERIA um Estado intervencionista, o que ocorreu especialmente nos EUA com o New Deal e na Alemanha, com o programa de rearmamento que levou ao pleno emprego a partir de 1933.
O Estado intervencionista na Inglaterra e EUA chegou a um esgotamento financeiro ao fim dos anos 60, quando revive por razões fiscais a pregação por um modelo ortodoxo na política econômica dos EUA e Inglaterra, duas economias que não só eram a locomotiva da economia mundial mas também a fonte do pensamento econômico que rege os modelos de política econômica, mesmo a Escola austríaca tinha sua reciclagem intelectual na Inglaterra.
Nasce então o “neoliberalismo” que é apenas uma repaginação da Escola clássica renascida das cinzas, visando encolher o Estado do Bem Estar Social e reduzir seu custo, regredindo à Belle Epoque do capitalismo do Século XIX, as baterias dessa nova doutrina dirigidas especialmente aos programas de benefícios sociais aos mais pobres. O mantra dessa repaginação da escola clássica dizia que o capitalismo deixado livre traria maior prosperidade para todos, uma crença de fé apresentada como verdade científica.
O “neoliberalismo” como modelo de sucesso se esgotou na crise financeira de 2008, causada pelos excessos do “financismo”, filho mais velho e herdeiro do modelo neoliberal.
O “financismo” passou a dominar a totalidade da economia americana e inglesa, que na sua esteira perderam sua base industrial, desnecessária no mundo ideal do “financismo”. Basta-lhe o mercado financeiro para satisfazer o modelo rentista, a indústria é desprezada e pode se transferir para lugares de mão de obra mais barata em benefício de todos, dizia-se.
Mais ainda, a base industrial transferida dos países ricos do Ocidente para a Ásia ajudaria a manter baixa a inflação pela redução de custo dos produtos usando mão de obra barata dos asiáticos mais pobres e, portanto, mais submissos do que os operários ocidentais.
Para o mundo financista essa transformação é perfeita, mas esqueceram de um detalhe: a desmontagem da base industrial produz uma multidão de desempregados em um primeiro momento e depois de desesperados, caldeirão historicamente comprovado de cataclismas políticos de todos os tipos, populismos, golpismos, revoluções, agitação, criminalidade. Nenhuma sociedade vive em equilíbrio quando boa parte dela não tem renda.
O modelo neoliberal NÃO TEM SOLUÇÃO para esse desequilíbrio nem em economias desenvolvidas e muito menos em economias periféricas, como a do Brasil.
A “doença social do neoliberalismo” atingiu as economias carros-chefes do capitalismo ocidental. O plebiscito que levou o Reino Unido a sair da União Europeia, o BREXIT, teve como resultado a expressão da insatisfação social dos deserdados do neoliberalismo fora de Londres.
Enquanto o centro financista de Londres adora a ideia de fazer parte da União Europeia, porque isso dá a Londres a centralidade para todo o continente como centro financeiro, gerando ganhos espetaculares de renda de arbitragem e serviços, a desindustrialização das tradicionais zonas de manufaturas, Birmingham, Wolverhampton, Coventry, Bristol, sofrem com a desindustrialização, o Reino Unido perdeu por completo vastos setores industriais, como automóveis, maquinas, aviões, locomotivas, navios, tecidos, criando áreas de miserabilidade sem renda e sem futuro, ao mesmo tempo em que Londres é uma festa de consumo de luxo e bem estar social o interior é um cemitério de fabricas, algumas que mantinham uma cidade inteira e que ao se transferir para a China decretam a morte de áreas inteiras onde vivem pessoas que dependiam dessas fabricas.
Esse processo de rebaixamento do custo da mão de obra permitido pela globalização industrial beneficia a quem? Aqueles que não dependem da indústria, os beneficiários do financismo, só a eles e aos funcionários públicos, os antigos empregados das industrias perderam seu emprego e renda, o modelo de globalização industrial foi uma desgraça para eles como é de meridiana evidencia, MAS os teóricos do neoliberalismo insistem que seu modelo é bom para todos, o que é uma falácia, uma mera construção intelectual falsa, não beneficia a todos.
Nos EUA, a revolta dos deserdados do modelo neoliberal e sua derivação consequente, a globalização industrial levou à eleição do mais improvável dos candidatos, Donald Trump, não por suas qualidades e sim porque ele representa um modelo anti-neoliberal e anti-globalização industrial. Então o que se vê no MUNDO REAL é a falência político-social do modelo neoliberal porque ele produz no topo uma fatia reduzida de beneficiários e na base uma multidão de prejudicados, é um modelo que serve a poucos e que não tem e nunca terá outro resultado, um modelo concentrador de renda e de riqueza como nenhum outro, nem nas monarquias do Estado absolutista havia uma classe aristocrática tão abastada como a da “aristocracia das finanças” e seus núcleos de apoio no mundo jurídico e de serviços.
O CASO DO BRASIL
O modelo neoliberal brasileiro foi criado como base teórica do Plano Real.  Até então o Brasil tinha uma inflação causada pelo déficit publico cujas causas não foram solucionadas, em cima da ferida não curada do desajuste do gasto publico, criou-se uma moeda “fake” por decreto que dependia de uma estabilidade artificial porque não se curou antes as causas primarias da inflação, o déficit fiscal da União, estabilizou-se a moeda mantendo os desajustes anteriores nas finanças do Estado, aquelas causas que geravam a inflação anterior.
Como consequência os funcionários públicos que tinham poder de compra menor do que seus equivalentes na iniciativa privada, em compensação com a garantia do emprego, passaram a ganhar muito mais, porque antes a inflação diminuía seus salários ao longo do ano, e hoje ganham 4 a 5 vezes mais que seus equivalentes no mercado privado, mantidas as garantias de emprego e um grande número de vantagens que não existem na economia privada. Piorou-se enormemente a situação das finanças publicas com o Plano Real, porque antes a inflação era uma solução e não um problema, a inflação diluía e aliviava o peso do custeio da maquina publica pela corrosão do valor da moeda durante o ano.
Nunca antes do Plano Real o Estado investiu tão pouco em obras e projetos públicos. Hoje, por causa da estabilidade artificial da moeda, o total da arrecadação está comprometido com folha e previdência dos funcionários públicos, não existe mais a válvula de escape da inflação para “aguar” o gasto público, o Plano Real provocou a quebra do Estado brasileiro em todos os níveis ao congelar pelo topo seus pagamentos de salários, despesas e juros, tudo aquilo que a inflação ajudava a pagar, essa falsa nova moeda agora apresenta a conta, a falência do Estado.
COMO REATIVAR A ECONOMIA
Para o financismo é FUNDAMENTAL não haver inflação porque a base de sua riqueza é a moeda estável que garante o valor dos ativos financeiros. Para a economia da produção a inflação não é um fator relevante porque a empresa industrial tem como manejar a moeda instável, como se fez no Brasil por meio século quando se cresceu muito COM inflação.
A empresa ajusta seus preços para acompanhar a inflação e raramente sai perdendo, foi assim que se formaram as maiores empresas brasileiras nascidas e crescidas em longos período de inflação e foi também nesses períodos inflacionários que a BASE DA INFRAESTRUTURA brasileira de energia, saneamento e transportes foi construída,  depois do Plano Real pouca coisa mais se fez, muito menos do que de 1950 a 1990, a moeda estável foi a única realização.
Mas então a inflação é boa? Não, a inflação é uma febre, não é boa a longo prazo e nem como ideal de um sistema econômico. MAS a inflação pode ser necessária em certos períodos de letargia e estagnação da economia, ela estimula as pessoas a investir em ativos concretos, imóveis, mercadorias, maquinas, fábricas invés de tentar viver de juros.
A pior coisa que pode acontecer é uma economia estagnada, é um pequeno núcleo rentista vivendo de juros sem fazer nada, sem empreender e sem trabalhar, para esses a inflação zero é essencial, para os demais agentes econômicos não é tão relevante, a inflação é apenas uma variável a mais entre tantas outras da economia, pode-se perfeitamente viver com inflação por largos períodos, quando ela se tornar descontrolado faz-se uma reforma monetária e uma nova estabilidade pode ser criada com relativa facilidade. Muito mais difícil do que reverter inflação é sair da DEFLAÇÃO, esta é o tumor maligno, não a inflação, apenas uma febre.
A inflação tem uma utilidade marginal, que é aliviar os devedores, hoje a imensa maioria da população brasileira é devedora e não credora, aliviar a divida das empresas, dos Estados e da União, das pessoas físicas daria um impulso por si só à economia produtiva.
A inflação favorece muita gente e prejudica alguns, todos eles no mundo do “financismo”, banqueios e aplicadores que vivem de juros, que em natural defesa, ao sinal de inflação vão  transformar seu capital em ativos reais, imóveis, maquinas e mercadorias,  vão ESTIMULAR A ECONOMIA REAL em desfavor do financismo, isso será bom paro conjunto da  economia ao faze-la voltar ao crescimento pela volta aos ativos concretos e não à ficção do rentismo.
Mas a inflação, como qualquer remédio, pode ser também perigosa quando passa da dosagem necessária,  tampouco é um objetivo final,  apenas um remédio CIRCUNSTANCIAL para uma situação especifica e nesse contexto pode ser manejada  e usada.
A ECONOMIA DAS CIRCUNSTÂNCIAS
Expressão criada por mim para jogar com a Teoria do Caos da Física em economia, uma tentativa de definir a “economia das circunstancias”, um novo modo de ver a economia, por fora e acima dos absurdos modelos matemáticos que infestaram o pensamento econômico na segunda metade do Século XX, modelos que destruíram a essência do pensamento econômico como método de analise fenomenológica, tentando forçar encaixar a ciência econômica no campo das ciências exatas, esquecendo que na base da ação econômica está o homem imprevisível no seu comportamento e reação politica.
Essa tentativa de transposição da economia para formulas exatas nasceu nos EUA pela atração do mercado financeiro sobre os economistas acadêmicos. Felizmente esse esforço não contaminou os europeus que não embarcaram nessa canoa furada.
A eleição inesperada e improvável de Trump como resultado da desarrumação total da sociedade americana pelo modelo financista que destrói a classe media e a indústria, foi a prova mais recente da falência do modelo neoliberal financista que destruiu o equilíbrio social solido e saudável da sociedade americana de classe media, multiplicou o numero de bilionários do financismo e destruiu a vida normal das famílias do coração dos EUA.
É o caixão do neoliberalismo, do monetarismo e de outras formulações artificiais que se esgotaram no lixão social de famílias desestruturadas pela falta de oportunidades, dos jovens pela falta de emprego e ausência do futuro, nos EUA, no Brasil na Argentina, mas não na Ásia onde essas ideias disruptivas não foram compradas, na Ásia a sabedoria milenar dos velhos respeitados e de uma sociedade estruturada na base familiar blindou os países, que tiraram proveito da globalização para fora de suas fronteiras sem se deixar infiltrar por ela, a globalização na Ásia vale para o mundo exterior, mas não para dentro dos Países.
Um sistema econômico nunca é perfeito e previsível, não adianta força-lo a ser um modelo matemático porque nunca será. É impossível prever todas as variáveis que interagem em um modelo econômico porque há variáveis sequer conhecidas como tal e será sempre impossível prever sua trajetória. Porque insistir em modelos teóricos que jamais podem ser precisamente calculados por dependerem de uma previsibilidade inexistente? Existe modelo mais ridículo do que o regime de metas de inflação, que não leva a nada a não ser uma vitória estatística estéril não produz prosperidade, não procria, “a inflação na meta” vale o que?
Os modelos matemáticos em economia, os abusos de estatísticas, planilhas, curvas, os índices milimétricos de frações de frações de um por cento, porque os economistas insistem nesses modelos tolos e toscos, que matam a aventura do crescimento e o sonho da prosperidade?
Ao fim de 2017 a maioria dos “economistas de mercado” da escola neoliberal, previam para 2018 crescimento de PIB brasileiro de no mínimo 2,5%, alguns 3% ou mais, mas baseado em que gatilho o PIB do Brasil poderia crescer, se não há demanda?
Esses mesmos economistas previam o dólar ao fim de 2018 em 3,40 ou no mais pessimista dos mundos em 3,50, erraram completamente, MAS O ERRO É DA ESSENCIA DESSE TIPO DE MODELO, jamais acertam porque é impossível prever todas as variáveis, a economia é um caos em busca de uma fantasia de equilíbrio que jamais se alcançará porque não é da essência do sistema econômico tender ao um equilíbrio teórico ao desejo dos economistas.
Todavia ao INSISTIR NO MODELO e a maior insistência de todas é o Sistema de Metas de Inflação elas paralisam a economia. Para atingir metas teóricas se tenta engessar o comportamento natural das variáveis, se congelam investimentos, se paralisam projetos PARA CHEGAR NA META a que nunca chegarão, mas o problema é tentar, porque na TENTATIVA MATAM O PACIENTE.
O FALSO AJUSTE FISCAL
O Estado brasileiro gasta muito e mal. Os “economistas de mercado”, todos “ajustistas” falam em um ajuste teórico tipo PEC 55, mas se recusam a descer às razões do gastos excessivos e errados dos governos, no Brasil todos gastam muito e muito mal mas ninguém luta pela eficiência dos gastos no “micro ajuste” e  não no ajuste teórico pelo teto macro.
E porque não apontam os maus gastos? ? Porque não tem coragem, só sabem operar com modelos teóricos, impessoais, ao não especificar o corte, todos são a favor do teto, mas como?
O Supremo Tribunal Federal tem mais de 4.000 funcionários para 11 Ministros, seria uma aberração em um País riquíssimo, imagine em um Pais pobre, um tribunal com 27 garçons e 28 copeiros, 19 jornalistas, 200 secretarias, 300 recepcionistas, garagem para 700 veículos e uma lista de 1.100 veículos esperando vaga, para o que se projeta novo estacionamento, esse modelo aberrante se repete por toda a folha da União, Estados e Municípios, não adianta falar em congelar teoricamente gastos por 20 anos, quais gastos? Se não se cortar na ponta da faca, no gasto inútil, o corte vai se fazer em hospital infantil e ambulatório para idosos.
Nenhum economista toca nisso, apenas um entre centenas de exemplos.
A disfuncionalidade do Estado brasileiro, União, Estados e Municípios, é evidente. Funcionários demais nas atividades meio, burocracia pura, e funcionários de menos e mal pagos nas tarefas que servem ao publico, enfermeiros, médicos, professores do ensino elementar, merendeiras, bombeiros, policias, ganham mal e são poucos. Não se ajusta esse quadro sem revogar direitos mal adquiridos contra toda a sociedade, como aposentados jovens com altíssimos salários e que ainda fazem jus a bônus de produtividade, e todos os demais novos e adicionais benefícios que se dão ao pessoal da ativa, algo que não existe em Pais algum do planeta e que jamais pode ser considerado um direito, é um simples saque ao Tesouro.
Mas o ajuste será muito mais exequível em um ciclo de crescimento da economia, cortar a folha do Estado em plena recessão significa aumentar o numero de desempregados no momento em que a economia privada não está contratando, mesmo sendo racional no campo da eficiência, seria um contrassenso macroeconômico, AJUSTE SE FAZ COM A ECONOMIA CRESCENDO.
O crescimento pode ser estimulado por substancial reforço no orçamento federal a ser financiado por aumento da divida publica de LONGO PRAZO com juros médios internacionais mais indexação, divida entesourada pelo Banco Central transferindo liquidez para o Tesouro com emissão de meio circulante, R$ 50 bilhões por mês a valores constantes de 2018 teria um impacto de 8% no PIB, risco de inflação sempre há, mas por um largo período a CAPACIDADE OCIOSA da economia produtiva absorverá essa expansão monetária sem inflação porque os fatores de produção estão sobrando em todos os setores da economia.
O CÂMBIO
Está claro que qualquer estimulo ao crescimento por expansão monetária, o que não é nada de novo, os EUA, União Europeia e Japão praticam politica semelhante (“quantitative easing”), baseadas em estímulos monetários fracionados mês a mês sem qualquer resultado inflacionário, a preocupação é com a inflação baixa demais que pode levar à deflação.
Todavia, no caso de economias periféricas como a brasileira, é essencial estabelecer controle de cambio para evitar ataques especulativos contra a moeda, lembrando que o controle de cambio operado pelo Banco Central ( modelo FIRCE) funcionou muito bem no Brasil de 1951 (até 1966 pela SUMOC) até 2013 quando irresponsavelmente o Banco Central delegou aos bancos o controle de suas próprias operações de cambio, a raposa fiscalizando o galinheiro, parece piada pronta, com o que entregaram ao sistema bancário o controle de cambio, o Governo abrindo mão de um controle essencial, que até o Governo americano tem para proteger o dólar, quando e se necessário. O Departamento do Tesouro dos EUA tem uma enorme DIVISÃO INTERNACIONAL (Office of International Affairs) comandado por um Subsecretario do Tesouro com mandato para proteger o DOLAR e a posição econômica dos EUA no mundo, contra tudo e contra todos, não hesitaram em 1973 em jogar fora o lastro ouro, quem quiser detalhes pode acessar o site do Treasury Department – Office of International Affairs, para ver a gigantesca maquina operacional do Tesouro na área internacional, o dólar é controlado no mundo inteiro, da Sibéria à Patagônia, eles tem mecanismos de proteção da sua moeda, o EXCHANGE STABILIZATION FUND, Fundo de Estabilização do Cambio, um instrumental pesado, com recursos ilimitados e artilharia de guerra, eles não brincam com o cambio e não dão proteção para especuladores, como faz o nosso Banco Central.  Além do Office of International Affairs o Tesouro conta com um braço operacional, o Federal Reserve Bank of New York que maneja a mesa de cambio e títulos do Tesouro para fora dos EUA, comprando e vendendo bônus, moedas, ouro.
Mais ainda, o Tesouro tem um Committee of Foreing Investments que AUTORIZA OU VETA a compra do controle de empresas americanas por capital estrangeiro, visando a proteger os interesses do Estado americano, atenção NEOLIBERAIS BRASILEIROS VIRAM COMO OS AMERICANOS NÃO SÃO TÃO NEOLIBERAIS QUANDO SE TRATA DO INTERESSE DO PAIS?
Capital estrangeiro não entra à vontade, PRECISA DE APROVAÇÃO DO GOVERNO, que coisa, eles pregam a liberdade de capitais nos outros países, mas lá não brincam com isso.
Foi um loucura completa o Estado brasileiro abrir mão do controle de cambio, o que só, absolutamente só, favorece o capital especulativo, o INVESTIMENTO DIRETO convive perfeitamente com controle de cambio, que o Brasil operou por 62 anos, período em que entrou o GROSSO do capital estrangeiro na economia produtiva brasileira.
A registrar que os estatutos do FMI admitem o controle de cambio quando, Países membros precisam proteger suas moedas, não é pecado, como pretendem os neoliberais brasileiros.
A MOEDA COMO VALOR
Os “economistas de mercado” repetem de forma obsessiva o mantra “a estabilidade da moeda é uma conquista da sociedade brasileira”. O mantra é irracional. A moeda não é um valor neutro, a moeda é um instrumento para fazer funcionar a economia produtiva.
A estabilidade da moeda é boa ou má, dependendo do custo. No regime do ditador Salazar em Portugal, o ESCUDO era a moeda mais estável do mundo, MAS o custo foi dois terços da população masculina ter que emigrar porque não havia emprego em Portugal, a economia ficou estagnada por quatro décadas. E um dos lugares principais para os quais os jovens portugueses emigravam era o Brasil da inflação e nenhuma estabilidade monetária. Uma contraprova do mantra dos economistas de mercado, os portugueses fugiam de um Pais de moeda estável para um Pais com inflação crônica, porque? Porque no Brasil havia oportunidades de trabalho e negócios, e em Portugal não havia, mas a moeda era estável.
Então a estabilidade não é um valor por si só, absoluto, depende do que custa ter essa estabilidade. Para um desempregado sem renda a moeda estável nada significa.
Nessa ótica um programa econômico baseado em regimes de metas de inflação, sem outros objetivos, especialmente de desenvolvimento para dar oportunidades aos mais pobres, é um mau programa porque não chega a lugar nenhum, não desenvolve o País e desperdiça suas potencialidades.
A DÍVIDA PÚBLICA
Hoje é o eixo central da politica econômica, essa divida publica foi criada APÓS o Plano Real, após a estabilização, no período anterior onde a estabilidade monetária não era um objetivo, a divida publica federal interna era desprezível e nunca foi o centro da politica econômica.
O volume dessa divida, hoje em torno de CINCO TRILHÕES de Reais não é o maior problema e sim seu perfil de vencimentos, uma quarta parte, representada por “operações compromissadas” de recompra entre o Banco Central e o sistema financeiro, vence EM DIAS,  o que representa uma hipoteca do sistema financeira contra o Estado brasileiro.
O restante da divida tampouco é de longo prazo como a americana, que se projeta para 30 anos. A divida brasileira não é girada como investimento e sim como quasi-moeda, é o parqueamento da liquidez existente na economia, recursos estacionados aguardando outra destinação nas tesourarias de bancos, seguradoras, fundos de pensão, grandes mineradoras, fundos de investimentos, esses títulos tem liquidez imediata e repousam como reserva de valor para pagar futuros compromissos ou desembolsos para outros destinos, não é aplicado para obter determinada renda e sim porque não há alternativa no sistema para guardar essa liquidez. É um mito propagado pela mídia alugada pelo sistema financeiro de que se não pagar juros altos a divida não terá compradores. Terá com qualquer juro ou até juro negativo porque sua função não é renda, é estacionar a liquidez. A parcela aplicada como investimento, pelo Tesouro Direto é pequena e não significativa.
A QUESTÃO DA DEMANDA
Os presidentes dos principais bancos centrais do mundo, Mario Draghi do BCE, Jerome Powell do Federal Reserve e Harohiko Kuroda, do BC do Japão se reuniram em Sintra dias atrás para debater a preocupação com a inflação baixa demais nos seus países, no Japão a pressão deflacionaria já dura 30 anos. A inflação baixa demais é um PROBLEMA porque significa uma economia estagnada que não gera empregos e AUMENTA AS TENSÕES E DESEQUILIBRIOS SOCIAIS, mesmo nos países ricos, estão todos preocupados com a INFLAÇÃO BAIXA DEMAIS.
Os “economistas de mercado” brasileiros, uma subespécie única no planeta pela sua cegueira diante das condições do País, um dos mais ricos do mundo em recursos naturais e que chafurda na pobreza porque não sabe aproveitar esses recursos, com uma politica econômica presa a formulas que mesmo em países ricos não tem mais credibilidade, repetem através de seus alto falantes na mídia que é preciso criar condições para a volta dos investimentos privados, porque serão esses que criarão empregos. ISSO É FALSO. Investimentos privados que geram empregos PRECISAM DE DEMANDA ANTECEDENTE, é preciso haver pressão de demanda para justificar novos investimentos e essa demanda só se cria com renda nova que deve ser gerada por expansão monetária, DINHEIRO NA MÃO DAS PESSOAS.
Sem demanda não há investimentos e sem esses não haverá empregos. O movimento de capitais estrangeiros que chega ao Brasil nos últimos anos NÃO É PARA INVESTIMENTO PRODUTIVO, é para compra de ações já emitidas, para compra de empresas, concessões e privatizações, nada que gere novo emprego e nova renda.
Ao contrario, o Brasil tem sido alvo de DESINVESTIMENTOS, firmas fechando e subsidiárias de multinacionais sendo transferidas para outros países. A politica monetária atual é um DESASTRE porque congela a economia para que ela não cresça, se crescer gera pressão inflacionaria, que é o demônio dos economistas de mercado, então eles preferem a estagnação, o desemprego, a falta de renda dos consumidores, porque ai não tem inflação.
MANTER A INFLAÇÃO NA META é único objetivo da politica econômica desde o Plano Real, mantida durante todo o governo do PT pelo comando dessa visão no Banco Central, desde a gestão Gustavo Franco até hoje TODOS OS PRESIDENTES E DIRETORES DO BANCO CENTRAL SÃO DO MERCADO FINANCEIRO, de onde vem e para onde voltam.
O sinal demonstrado na reunião de Sintra pelos presidentes dos principais Bancos Centrais do mundo é aquilo que é obvio: inflação baixa ou alta não é por si só vicio ou virtude, DEPENDE DAS CIRCUNSTANCIAS. No Brasil os “economistas de mercado” que comandam o Banco Central e toda a politica econômica, tem como valor absoluto que inflação baixa é sempre boa, ISSO É FALSO, inflação baixa por longos períodos pode abrir o portão do cemitério da  economia, o REGIME DE METAS DE INFLAÇÃO como base da politica econômica é um desastre e um novo governo tem que não só abolir o regime, como impedir que “economistas de mercado” comandem o Banco Central, SERÁ O COMEÇO DO RELANÇAMENTO DA ECONOMIA BRASILEIRA para o caminho do desenvolvimento.
O Governo e o Banco Central devem comandar a politica econômica e não serem comandados pelo mercado financeiro através do famigerado BOLETIM FOCUS, um Governo que governa deve LIDERAR E NÃO SER LIDERADO.