quinta-feira, 30 de agosto de 2018

“Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização, é alugado”

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Referência na sociologia do trabalho, Ricardo Antunes diz ver a administração Temer como um governo terceirizado. "Foi imposto para devastar a legislação social"

Até o fim deste mês o plenário da Câmara dos Deputados deve votar a terceira das três partes do pacote que representa a maior perda de direitos da história para o trabalhador brasileiro, a reforma da Previdência. Se aprovada, ela seguirá para o Senado, onde já tramita a reforma trabalhista. A lei da terceirização já foi sancionada pelo presidente Michel Temer.
Para o sociólogo Ricardo Antunes, professor livre-docente da Unicamp e um dos principais nomes no País sobre os debates do mundo do trabalho, esse movimento contra os trabalhadores já era esperado. Em 1995, no livro Adeus ao Trabalho? (Cortez Editora), Antunes elaborou o conceito que chamou de “escravidão do século XXI” – um mundo do trabalho baseado na precarização e no esgarçamento das relações de trabalho como as conhecíamos até então.
Hoje, 22 anos depois do livro, essa figura sai do mundo acadêmico e é realidade nas ruas e nas empresas. Mais que isso: um ano após Michel Temer assumir a presidência, está prestes a se tornar legalidade. “A tragédia é que esse quadro se consolidou”, lamenta.
Antunes acredita, entretanto, que é justamente essa situação limite em que se encontra a classe trabalhadora que vai gerar a unidade necessária para a reação. A Greve Geral de 28 de abril, inclusive, é interpretada por ele como ponto de inflexão do movimento de luta dos trabalhadores. “A classe trabalhadora começa a perceber que a terceirização é para arrebentá-la”, diz.
Nesta entrevista a CartaCapital, Antunes comentou ainda o quanto o passado escravocrata brasileiro pesa nos interesses que levam à perda de direitos e sobre a necessidade do trabalhador se reconhecer como tal e se sentir representado pelos sindicatos. “A conflagração do nosso tempo é a conflagração entre a totalidade do trabalho social versus a totalidade do capital”.
E o enigma do século XXI? “O trabalho que estrutura o capital desestrutura a humanidade. E o trabalho que estrutura a humanidade é incompatível com o trabalho que o capital quer nos impor”.  
Leia a íntegra da entrevista
CartaCapital: Seu livro Adeus ao trabalho?, de 1995, já falava que a tendência para o mercado de trabalho era a terceirização sem limites e que os trabalhadores se tornariam algo como “escravos do século XXI”. Como o senhor revisita esse pensamento diante das reformas que o atual governo tenta aprovar, especialmente a trabalhista e a da Previdência?
Ricardo Antunes: Uma das principais ideias que eu apresentava no Adeus ao trabalho? era que estávamos penetrando numa era de precarização estrutural do trabalho em escala global. O que naquele momento era uma relativa exceção – o trabalho precário, informal, terceirizado – tenderia a se tornar regra. E a regra – o trabalho contratado, regulado, com direitos – tenderia cada vez mais a se tornar a exceção. A tragédia é que esse quadro se consolidou.
CC: E esse é um movimento até mais antigo em outros países...
RA: Não paira nenhuma dúvida hoje, em escala global, de que estamos num processo de precarização do trabalho muito acentuada. Conheço as experiências da Índia, da China, de vários países da Europa e dos Estados Unidos, além do Brasil, e vejo que essa tendência é muito profunda.
Na Inglaterra, há a modalidade zero hour contract (o contrato de hora zero) que é o trabalho intermitente (proposta que consta na reforma trabalhista que tramita na Câmara dos Deputados). Médicos, advogados, atividades ligadas ao cuidado na saúde, eletricistas… As mais distintas categorias do chamado novo proletariado, especificamente o novo proletariado dos serviços.
Esses trabalhadores são chamados e recebem apenas pelo trabalho realizado: não há contrato e não recebem direito nenhum. Muitas empresas transnacionais e grandes corporações aderiram. No Reino Unido, os sindicatos dizem que esse tipo de contrato já abrange cerca de 1 milhão de trabalhadores e trabalhadoras, e isso se esparrama pelo mundo.
Da mesma forma, podemos citar o exemplo italiano, onde há o trabalho a voucher. O trabalhador ou a trabalhadora realiza o trabalho, recebe um voucher e depois vai receber por aquelas horas. Isso abriu caminho para uma precarização enorme. O patronato paga por 20 horas de trabalho pelo sistema voucher, depois contrata por mais 20 horas. É o trabalho precário absoluto, que paga, inclusive, o valor mínimo por hora permitido na Europa.
A constatação – e não estou falando da Índia, onde o quadro é mais brutal – é que na era do trabalho digital caminhamos para um mundo do trabalho onde a condição de precariedade é a tendência dominante. E contrariando a tese de que a era da tecnologia digital traria um admirável mundo do trabalho, nós vivemos uma situação que intensifica o que eu apontava na década de 90.
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Fenômeno é global: no Reino Unido o contrato zero hora, na Itália pagamento por voucher (Wikimedia Commons)

RA: O quadro brasileiro, o que vimos nos últimos anos, mesmo nos períodos de expansão econômica com Lula e Dilma, é que não houve redução no nível de precarização do trabalho. O governo Lula e parte do governo Dilma criaram 22 milhões de empregos porque o crescimento econômico foi forte. Mesmo assim, era muito frequente e até mesmo dominante o trabalho precarizado, com altas taxas de turn over, terceirizado, no espaço da burla. O trabalho terceirizado é o espaço da burla, o espaço da fraude.CC: Passados mais de 20 anos, mas ainda antes do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, o senhor voltou a falar em escravidão. Agora que as medidas do atual governo parecem avançar, qual o cenário para o Brasil?     
Não por acaso, poucos trabalhadores podem entrar na Justiça, porque o trabalhador terceirizado tem que trabalhar, não tem nem tempo de entrar na Justiça. E quando eles entram e ganham as causas, frequentemente essas empresas já fecharam, já se constituíram outras empresas, com outros nomes, para poder fugir das penalidades decorrentes do não cumprimento da legislação social protetora do trabalho.
Enquanto nos anos 2000, especialmente a partir de 2005, tivemos uma expansão econômica, esse trabalho precarizado – importante dizer que naquela época a remuneração dominante era de um salário mínimo e meio – se alterou profundamente. Em âmbito global, por causa da crise de 2008, que devastou o mercado de trabalho, isso se acentuou. Quando essa crise chega nos países do sul do mundo, e em particular no Brasil, vem o período da devastação.
"A escravidão é uma chaga na classe dominante brasileira, que se acostumou e gosta da escravidão"
Por que eu faço uma alusão à escravidão? Na escravidão o trabalhador era vendido. Na terceirização ele é alugado. É uma locação de força de trabalho. E o governo Temer eu caracterizo como um governo terceirizado, ele foi imposto para devastar a legislação social protetora do trabalho no Brasil.
É evidente que não estamos voltando ao trabalho escravo de 1500, estamos falando de uma escravidão inclusive digital, do trabalho terceirizado, precarizado, informal, do trabalho sem direitos, de uma dependência do sistema perverso de metas, que tem levado a suicídios e adoecimentos do trabalho. Nós estamos em 2017, comemorando 100 anos da Greve Geral de 1917, e se esse processo não for obstado vamos regredir à condição vigente de trabalho de antes de 1917
CC: Na última semana um “filhote” da reforma trabalhista ganhou a mídia. O PL 6442 modifica toda a regulamentação do trabalho rural, abrindo a possibilidade, inclusive, de remuneração na forma de casa e comida. O que significa para o trabalhador rural, que mesmo com o amparo da lei já é um trabalhador mais vulnerável, ter seus direitos ameaçados como prevê o PL 6442?
RA: Não é por acaso também que dessas novas medidas – a terceirização total, o flagelo absoluto, a quebra do que restava de dignidade do trabalho – há a discussão de como eliminar um ganho que nós tivemos na última década que foi a caracterização do trabalho análogo à escravidão.  
Se quer eliminar o controle que conseguiu-se criar no Brasil, especialmente pelo Ministério Público do Trabalho e por uma atuação da Justiça do Trabalho mais crítica e voltada à defesa da dignidade do trabalho, um movimento que fez com que muitas empresas fossem denunciadas por praticarem o trabalho análogo à escravidão.
Há o movimento dos capitais, da agroindústria às grandes burguesias, inclusive financeiras, no sentido de acabar com essa figura do trabalho análogo à escravidão. Essa é a prova cabal de que se a classe trabalhadora, os movimentos sociais, os sindicatos, não resistirem com muita vitalidade, nós vamos regredir.
Uma das obrigações desse governo terceirizado é implantar a terceirização total. Por isso que o trabalho precarizado, corroído, aviltado e escravizado é a forma que o capital financeiro impõe para que o trabalho exista hoje em escala global. E isso vai ser menor ou maior de acordo com o nível de resistência sindical.
CC: Ainda pensando nas últimas medidas no Brasil para legalizar a precarização, mesmo que esse PL não seja aprovado, o que significa para o trabalhador brasileiro como um todo que ideias como essas sejam sequer aventadas?
RA: Significa, primeiro, no sentido mais geral, que o proprietário do agronegócio sonha com a escravidão. Com as exceções que sempre há. O nosso país viveu longos séculos de escravidão e isso é uma chaga na classe dominante brasileira, que se acostumou e gosta da escravidão.
O segundo ponto: você pagar o trabalhador rural ou a trabalhadora rural – e é importante ter essa dimensão de gênero uma vez que a divisão sexual do trabalho marca o mundo do trabalho – não em dinheiro, mas em alojamento e alimentação, me faz lembrar do cambão (trabalho gratuito que o trabalhador rural precisa conceder ao dono da terra), uma modalidade de trabalho muito vigente no campo brasileiro que originou as ligas camponesas, muito importante nos anos 60. O trabalhador fica dependendo da casa e da comida e a Constituição proíbe isso. É a burla que faz renascer a ideia do enriquecimento de uma classe às custas do vilipêndio da outra.
O terceiro ponto é que a nossa classe dominante, especialmente aquela que atua no campo, é poderosa. É importante lembrar que a CLT de 1943 foi resultado de uma força revolucionária do trabalho, mas teve sua configuração jurídica com o getulismo, um governo tipicamente burguês, ainda que com traços nacionalistas. Naquela CLT o trabalhador rural foi excluído porque a burguesia rural, muito forte então, tinha parte do controle do governo Vargas e impediu que a CLT chegasse ao campo.
Então esse PL, se vier a ser aprovado, vai mostrar a verdadeira face escravocrata do agronegócio do Brasil. E isso é inaceitável. Se a gente somar a esse traço escravocrata do agronegócio a superexploração do trabalho que caracteriza nossas burguesias do mundo produtivo e financeiro, temos o que tipifica o capitalismo brasileiro.
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PL do trabalhador rural coloca em xeque caracterização do trabalho análogo à escravidão (Wikimedia Commons)
CC: Tanto o PL 6442 quanto a própria reforma trabalhista permitem o alongamento da jornada de trabalho para até 12 horas, o trabalho intermitente, o home office… Se ao mesmo tempo o trabalhador se torna “escravo” por trabalhar sem limites, se fragiliza diante da precariedade do trabalho em si. Que paradoxo é esse e como ele contribui para fragilizar também a identidade desse trabalhador?
RA: É claro que esse cenário todo, que é profundamente ideológico, é muito poderoso. Na empresa, você tem um trabalhador contra o outro, um não pode conversar com o outro e as resistências e ações sindicais são combatidas. O salário é individualizado. Só ganha quando produz e quem produz mais ganha mais. E quem produz menos, perde o lugar. É o reino da competição selvagem. Isso macula a classe trabalhadora.
Imagina há quatro décadas, quando houve uma reestruturação produtiva brutal, uma neoliberalização devastadora que configura a forma da dominação capitalista hoje em escala global? E isso tudo é consolidado pelo mundo financeiro, um aspecto nefasto, uma tentativa de individualizar e colocar um contra o outro.
Baseada nessa heterogeneidade, que é tanto objetiva quanto subjetiva, tem um outro lado que é muito importante e esse é o calcanhar de Aquiles do capital, que é o traço homogeneizante da classe trabalhadora: justamente o processo de precarização. E isso é global e vai dos trabalhos digitais aos manuais.
Se a classe trabalhadora não resistir, estamos em franco processo de uberização do trabalho. E em escala global, seja o trabalho digital, seja o manual. Como não há uma muralha chinesa entre o trabalho digital e o manual, e uma dimensão não é absolutamente separada da outra, há um resgate da sensação de pertencimento de classe.
Essa homogeinização não faz, por exemplo, que a redução da jornada de trabalho seja um desejo. Tanto no trabalhador ou na trabalhadora mais estável quanto nos mais precarizados. Isso porque o principal temor do trabalhador com direito é o desemprego ou a terceirização. E o maior sonho do trabalhador terceirizado é ter direitos. A tragédia do capital é que ele não consegue arrebentar os coágulos que emergem do mundo do trabalho e que levam às rebeliões.
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A classe trabalhadora começa a perceber que a terceirização é para arrebentá-la, por isso a greve foi bem sucedida. (Antonio Perri/Unicamp)
CC: E é possível avaliar que a greve geral do dia 28 de abril foi um embrião pelo dessa rebelião?
RA: Por que a greve foi bem sucedida? Porque a classe trabalhadora começa a perceber que a terceirização é para arrebentá-la. Que a reforma da Previdência é para fazer com que ele morra sem se aposentar. Ou seja, vítima de uma previdência privada que pode lhe burlar. Essas são as questões vitais que fazem com que a fratura e a fragmentação da classe trabalhadora não seja um traço imutável. Pelo contrário, é um polo de aproximação, de solidariedade e de consciência.
É claro que num momento de crise econômica é difícil para o trabalhador falar “vou entrar numa greve” quando ele sabe que pode perder o emprego que ele quase não tem. Mas tem o outro lado: ele está percebendo que com esse governo totalmente destrutivo não há outra alternativa que não a resistência e a confrontação.
CC: Mas num momento de crise e também de polarização política como o que vivemos, como a falta de consciência de classe – aquele trabalhador que não se reconhece como tal – pesa e de certa forma catalisa a perda de direitos? 
RA: A consciência de classe é um processo muito complexo. Até porque ela é mais presente no operário metalúrgico, da indústria química, naquelas atividades onde o coletivo é relevante. Não se monta um carro sem atividade coletiva, mas se pode limpar um prédio inteiro com só um indivíduo limpando. Ele trabalha sozinho, tem outro trabalhando em outro andar, de tal modo que os laços de sociabilidade e de solidariedade são mais rarefeitos.
E as empresas jogam pesado nisso. Há casos de empresas de terceirização que transferem trabalhadores e trabalhadoras quando eles começam a se agrupar e discutir suas condições de trabalho. É até uma tendência do capitalismo do nosso tempo.
Mas o outro lado é que, para tragédia do capitalismo, o mundo do capital não se reproduz sem alguma forma de interação com o trabalho vivo. E dessa interação, nascem, florescem, emergem traços de aproximação e solidariedade. Esse não é um processo fácil, esse sentido de pertencimento de classe, mas quem achou que esse processo não ia mais ocorrer quebrou a cara e ninguém mais leva a sério. É mais complexo, é mais difícil, mas quando ele ocorre atinge as multidões.
CC: Então o senhor é um otimista quanto ao poder dos trabalhadores se reconhecerem, se organizarem e combaterem os retrocessos que estão sendo propostos?   
 "A classe trabalhadora precisa dizer nesse momento que quer sindicato, sim"
 
 RA: Não é que eu sou otimista, eu pesquiso e acompanho. Eu viajo e observo esse movimento em muitos países. O momento que nós estamos vivendo, se eu for usar uma expressão forte, é uma era contra-revolucionária, numa onda conservadora tão forte.
Eu reconheço esse cenário, o cenário da destruição, mas esse cenário da destruição não elimina a confrontação. Ele dificulta, ele reprime, como vimos no comportamento da polícia na Greve Geral no  Brasil. Só que repressão… nós enfrentamos 20 anos de ditadura e derrotamos a ditadura.
O governo Temer tem uma feição claramente de exceção, ainda que seja uma exceção aparentemente legal. Mas se você imaginar que quem faz essa lei é o Parlamento brasileiro, o que é possível esperar? Aqueles teóricos que afirmam que não há luta entre as classes naturalmente não sabem do que estão falando. A conflagração do nosso tempo é a conflagração entre a totalidade do trabalho social versus a totalidade do capital.
CC: E a Greve Geral no Brasil pode ser interpretada como um ponto de inflexão desse movimento?
RA: Pode. Era muito difícil para a classe trabalhadora, depois da derrota que foi o governo do PT, se unir. A classe trabalhadora saiu dele (do governo petista) muito machucada, pois foi um governo em que ela jogou muita expectativa. Não por acaso, não houve greve geral contra o impeachment. Ao mesmo tempo, aqueles que queriam o impeachment viram que o governo Temer não é o que eles imaginavam.
E hoje é diferente. A classe trabalhadora percebe que terceirização é uma questão vital, que arrebenta com o trabalho. O desemprego é vital, porque ele arrebenta o trabalho. A (reforma da) Previdência é vital, pois ela leva o trabalhador à morte quando ele se aposenta, ele não terá tempo para gozar a vida depois do trabalho. Então essas questões vitais, com o quadro político atual, provocam sim essa inflexão.
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Enquanto existir capitalismo, o sindicato é ineliminável. É uma espécie de ferramenta da classe trabalhadora (Flickr Commons)
CC: O senhor fala bastante na união dos trabalhadores e tradicionalmente isso é feito via sindicatos. Existe organização sem a força do sindicato?
RA: Enquanto existir capitalismo, o sindicato é ineliminável. É uma espécie de ferramenta da classe trabalhadora. A ferramenta pode estar enferrujada, judiada, amassada, torta, mas a classe trabalhadora sem os sindicatos sofre mais. A classe trabalhadora precisa dizer nesse momento que quer sindicato, sim. Como, aliás, é o preceito da convenção 87 da OIT (Organização Internacional do Trabalho): o sindicato deve ser autônomo no sentido político, econômico e ideológico. 
CC: Um dos pontos da reforma trabalhista é o fim da contribuição sindical. Essa perda de recursos pode fragilizá-los ou a questão está mais na representatividade e na identidade dos trabalhadores com as categorias do que com dinheiro?
RA: Esse governo sabe que o imposto sindical, como dizia Vicente Matheus, é uma faca de dois legumes. O imposto sindical foi criado por Vargas na década de 30 para controlar os sindicatos. O imposto não é uma conquista do sindicato autônomo, pelo contrário. E ele pode ser nefasto, porque permite que o sindicato de carimbo exista sem associados.
Na história do sindicalismo brasileiro de 1930 para cá o imposto se tornou crescentemente uma fonte, definida pelo Estado, para sustentar o sindicato, o que já é uma aberração. Porque os sindicatos nasceram, na Inglaterra na revolução industrial, de forma autônoma. A tradição é de autonomia, inclusive para a sua preservação e manutenção. Aqui o imposto veio e ficou. Veio ditadura, veio Constituinte, e ele ficou.
Só que como o imposto sindical tornou-se, negativamente, um pilar de sustentação do sindicalismo brasileiro, inclusive do sindicalismo que tem um sentido crítico. A CUT nasceu em 1983 claramente contra ao imposto sindical. E por que o governo Temer faz isso hoje? Porque ele sabe que muitos sindicatos, inclusive aqueles com algum traço de combatividade, ainda dependem do imposto sindical ou de taxas negociais. Então a ideia do governo é jogar mais uma bomba e provocar mais destruição no meio sindical.  
Tem sindicato que há muito tempo não aceita o imposto sindical, que devolve para os trabalhadores. Esses entendo como os autênticos de ação sindical. Esses sindicatos estão mais em consonância com o espírito de autonomia dos sindicatos. Exemplo são os sindicatos de professores das universidades públicas e alguns de metalúrgicos, como os de Campinas e São José dos Campos. Eles têm outras formas de sustentação, inclusive mais autônomas.
Os trabalhadores devem sustentar seus sindicatos, que não devem depender do imposto que é tirado contra a vontade do trabalhador e entregue para centrais, federações, confederações e sindicatos que muitas vezes ele sequer participa e não os vê como representantes. Mas não pode eliminar numa tacada.
CC: Essa pergunta é quase uma provação, mas no fundo a discussão se resume a isso: qual o futuro do emprego?
RA: Se a lógica destrutiva que preside o mundo atual tiver vigência no mundo do trabalho teremos um trabalho terceirizado, do contrato zero hora e dos trabalhos intermitentes. E como eu falo no meu próximo livro: se tivermos sorte, seremos servos. Mas a coisa mais genial da história é que ela é imprevisível, é um empreendimento cotidiano.
O trabalho que estrutura o capital desestrutura a humanidade. O trabalho que estrutura a humanidade – porque o trabalho é uma atividade vital – é incompatível com o trabalho que o capital quer nos impor. É o enigma do século XXI. Por isso é que é ficção a ideia de fim do trabalho. Como é um horror uma sociedade em que só se trabalha. O trabalho deve ser fundado em ser uma atividade vital, que produza coisas úteis, de acordo com o tempo socialmente disponível. E isso é um imperativo categórico para a sociedade do século XXI.
E não me venha dizer que o capitalismo é eterno. Ele não está em colapso, mas ele está em crise. Porque ele só se reproduz destruindo: a força humana que trabalha, a natureza, além da destruição feita pela guerra. Os anos áureos da capitalismo, da modernidade, são coisa do passado. Então qual é o futuro do emprego? É entre a servidão e a emancipação.
Fonte: CARTA CAPITAL

Ministros do TSE têm salário aumentado antes de julgar Lula. Por Geraldo Seabra

Foto: TSE
por 
Geraldo Seabra

O Tribunal Superior Eleitoral deve decidir nesta sexta-feira (31) se o ex-presidente Lula pode ou não disputar a eleição presidencial de outubro depois de um aumento salarial de 16,38% para seus ministros, segundo o acordo feito entre Michel Temer e ministros do STF na noite de quinta-feira (29).
Pelo acordo, os salários dos ministros do STF, em que se incluem três do TSE, que segundo o Conselho Nacional de Justiça foi em média de R$ 48,5 mil por mês, no ano passado, passará agora para  R$ 56,4 mil, engordando cada contracheque em R$ 7.944, incluído o auxílio-moradia de R$ 4,3 mil que passou a ser incorporado aos salários da magistratura brasileira.
Para reduzir a suspeição de favorecimento dos juízes do TSE às vésperas do julgamento de Lula, Temer desistiu de adiar de 2019 para 2020 o aumento salarial dos servidores públicos federais, como pretendia. Assim, os servidores do Executivo terão seus salários reajustados no próximo ano.
Ao divulgar na última segunda-feira (27) o salário médio mensal de cada juiz brasileiro, o Conselho Nacional de Justiça explicou que o fato de receberem R$ 48,5 mil por mês não significa que os magistrados estejam recebendo acima do teto legal R$ 33,7 mil, porque pagamentos como 13º salário e férias são excluídos do cálculo do teto.
Além dos ministros do STF, serão beneficiados com o acordo feito com Temer os ministros do Superior Tribunal de Justiça, Superior Tribunal Militar, Tribunal Superior do Trabalho e do TSE. O aumento também alcança os desembargadores dos tribunais federais, como os do TRF-4, de Porto Alegre, e os juízes federais, como Sérgio Moro, da 13ª vara federal de Curitiba, responsáveis pela condenação de Lula no caso do tríplex.
Só o percentual do aumento conferido por Temer aos magistrados – de R$ 7.944 – seria suficiente para pagar oito aposentadorias recebidas por 90% dos aposentados brasileiros, ou quase 94 benefícios de R$ 85, depois de reajustados em 12% este ano, e pagos pelo Bolsa Família a 13 milhões de famílias que vivem na linha da pobreza.
TSE
O Tribunal Superior Eleitoral é composto por sete ministros, sendo três do STF, dois do STJ e dois advogados. Do STF, nomeados pela presidenta Dilma Rousseff vão julgar Lula a ministra Rosa Weber, presidente do TSE; Luis Roberto Barroso, relator do registro da candidatura de Lula, e Edson Fachin, sintonizado com o juiz Sérgio Moro e que tem pautado suas decisões contra o petista.
Rosa Weber foi a responsável pela prisão de Lula com seu voto decisivo, no STF, pela prisão em segunda instância antes do trânsito em julgado. Barroso, além de votar contra Lula, tripudiou sobre o ex-presidente, ao afirmar que se o STF revisasse a prisão em segunda instância “o crime voltaria a compensar”.
Do STJ vão participar do julgamento de Lula os ministros Og Fernandes e Jorge Mussi. Embora tenha sido nomeado  para o cargo por Lula, em 2008, e goste de ouvir a opinião pública sobre temas como intervenção militar e descriminalização do aborto, Og Fernandes, filho de um psiquiatra assassinado a mando da mulher sob a acusação de abusar da filha, ao ser perguntado sobre a Lei da Ficha Limpa antecipou à Folha de S. Paulo que vai “cumprir o que a legislação brasileira determina”.
Nomeado por Fernando Henrique em 1994, o ministro Jorge Mussi votou contra Lula em maio, quando a defesa do ex-presidente apresentou um habeas corpus preventivo para evitar sua prisão. Mas ele também negou um habeas corpus ao ex-governador de Minas Eduardo Azeredo, do PSDB, numa tentativa de evitar ser preso após a sentença em segunda instância que o condenou a 20 anos de cadeia por seu envolvimento no escândalo que ficou conhecido como Mensalão Mineiro.
Os ministros que ocupam os cargos da advocacia no TSE são Admar Gonzaga Neto, nomeado por Temer em março do ano passado, e Tarcísio Carvalho, ministro-substituto indicado por Dilma em 2014 e efetivado em maio de 2017.
Denunciado ao STF pela procuradora-geral da República Raquel Dodge por suposta agressão à ex-mulher, Admar Gonzaga, embora sem citar Lula, defendeu recentemente que o TSE rejeitasse ex-oficio o registro de candidatos condenados em segunda instância. Tarcísio Carvalho votou contra a cassação da chapa Dilma-Temer e considera a Lei da Ficha Limpa “uma conquista inexorável da democracia”.
Fonte: Diário do Centro do Mundo - DCM

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Brasil - Decisão sobre Lula é de cumprimento obrigatório, diz defesa de Lula

Na foto, Waleska Teixeira Martins e Cristiano Zanin Martins
Na foto, Waleska Teixeira Martins e Cristiano Zanin Martins

Em artigo publicado na Folha de S. Paulo desta terça-feira (28), os advogados Cristiano Zanin Martins e Waleska Teixeira Martins escreveram que a decisão da ONU, de garantir os direitos políticos do ex-presidente Lula, tem caráter vinculante e deve ser obrigatoriamente acatada por todos os poderes no Brasil.

De acordo com texto, ”a natureza do pronunciamento emitido em 17 de agosto pelo Comitê de Direitos Humanos da ONU no caso do ex-presidente Lula é de decisão, e seu cumprimento é obrigatório pelo Brasil, nos três Poderes. Lula não pode ser impedido de concorrer nas eleições de 2018, como decidiu a corte internacional”, escrevem.

Os advogados lembram que tanto ministros do Supremo Tribunal Federal como o Congresso Nacional reconhecem a força dos tratados assinados pelo Brasil. 

“As decisões atuais do Supremo Tribunal Federal reconhecem o caráter universal dos direitos humanos e de sua interpretação, além de admitir que as disposições sobre o assunto inseridas em tratados internacionais no mínimo têm caráter supralegal (acima das leis ordinárias). Também reconhecem o caráter obrigatório das decisões proferidas pelas cortes internacionais reconhecidas pelo país. O Comitê de Direitos Humanos da ONU insere-se exatamente nessa realidade após ter sido reconhecido pelo Brasil, de forma soberana e igualmente sem ressalvas, por meio do Decreto Legislativo 311/09. Na última semana, o presidente do Senado Federal, por meio de nota pública, reafirmou a plena vigência desse ato normativo”, afirmam.

“Nessa realidade, em julho de 2016, juntamente com Geoffrey Robertson, levamos ao comitê um comunicado individual – expondo que Lula estava sendo vítima de uma cruzada judicial ilegítima com o objetivo de retirar seus direitos políticos. Mostramos, após diversos recursos rejeitados no país, que o ex-presidente não dispõe de remédios eficazes para paralisar as violações às suas garantias fundamentais”, destacam, e continuam: “O comunicado passou por atualizações, e o Brasil já se manifestou em três oportunidades e em todas elas confirmou o compromisso com o sistema ONU e com o comitê”.

Eles escrevem também que a decisão do comitê tem por objetivo evitar dano irreversível, a fim de preservar o pronunciamento final da corte internacional e expõe a necessidade de um processo justo em relação a Lula. 

Cristiano e Waleska ainda fazem um alerta: “A responsabilidade internacional é do Brasil e deve se sobrepor a qualquer orientação política ou a entendimento pessoal dos responsáveis por dar cumprimento à decisão do comitê”. 

“O país terá a oportunidade de mostrar ao mundo que respeita a democracia ou definitivamente assumirá que voltou no tempo e se utiliza das mesmas desculpas da ditadura para violar garantias fundamentais e as normas internacionais que se obrigou a cumprir”, finalizaram.

Do Portal Vermelho, com informações de agências

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Na eleição, os escravos da palavra

As promessas demagógicas de muitos candidatos nessas eleições de outubro me fazem lembrar a reação dos escritores Antônio Callado e Ana Arruda quando lhes contei, em 1978, num jantar na rua Aperana, Leblon, uma história dos índios Tupinambá, que eu acabara de ler nas crônicas dos capuchinhos Claude d’Abbeville e Yves d’Évreux. Os dois padres franceses, que fundaram São Luís do Maranhão, em 1612, se gabam de haver “civilizado” esses índios, que fizeram “tanto progresso que era como se tivessem passado toda sua vida no meio dos franceses”. Apresentam um inventário desses “avanços”:
– “Há dois anos os franceses ensinam os Tupinambá a tirar o chapéu ao cumprimentar as pessoas, beijar as mãos, fazer reverência, dar bom-dia, dizer adeus, ir à igreja, benzer-se, ajoelhar-se, juntar as mãos, fazer o sinal da cruz, bater no peito diante de Deus, escutar a missa, ouvir o sermão embora não entendam nada, usar o Agnus Dei, ajudar o padre a rezar missa, sentar-se à mesa, colocar o guardanapo diante de si, lavar as mãos, pegar a carne com três dedos, cortá-la no prato, brindar à companhia; em suma, fazer todas as outras civilidades existentes entre nós” (D’Evreux, p.159).
É longa a lista das “boas maneiras” mencionadas por Yves d’Evreux, cuja ideia de “civilização” e de refinamento consistia em converter o “outro” em clone do “eu”, só faltou dizer que os Tupinambá estraçalhavam um coq-au-vin acompanhado de um vinhozinho Bordeaux e da exclamação: – “Ouh là là. J’adore le vrai plaisir de la table!”. Faltava, porém, algo para aqueles índios serem definitivamente “bem educados”, como se constata na história que reproduzi para Ana e Antônio Callado. Foi assim.
A guerra

Os Tupinambá da costa do Salgado, aliados dos franceses no Maranhão, organizavam anualmente expedição à boca do rio Amazonas para guerrear os Pacajá, seus tradicionais inimigos. Era um assunto interno deles, uma espécie de Fla x Flu, mas os franceses, em 1613, se ofereceram para acompanhá-los com suas armas de fogo, exigindo em troca que os presos de guerra se tornassem seus escravos. Embora isso não fizesse parte do ritual ancestral da guerra, os Tupinambá aceitaram. Firmaram um compromisso que aqui recrio de forma resumida, reelaborando o ajuste feito:
– Quantas canoas de guerra vocês podem levar? Quantos paneiros de farinha? Quantos guerreiros? Quantos remadores? – perguntaram os franceses.
Os Tupinambá responderam a todas as perguntas e os franceses agendaram com eles o dia e o local de largada daquela grande expedição intercultural e bilíngue, com centenas de canoas, remadores e guerreiros, nunca antes vista na Amazônia. Um dia antes do combinado, os franceses, metódicos e disciplinados, ancoraram suas galeotas na praia de Tapuitapera e lá acamparam com artilharia, arcabuzes, mosquetes e canhões, ansiosos, à espera da “farinha de guerra que vinha misturada ao carimã para maior conservação. (D’Evreux, pg 116).
Mas nada de os Tupinambá chegarem. Passou um dia, outro e mais outro, e nem sombra deles. Os franceses, desenganados e aborrecidos, decidiram, então, levantar acampamento. Eis que quinze dias depois chegam os índios, cheios de alegria e entusiasmo, entoando cânticos de guerra em suas canoas abarrotadas de farinha, remeiros e guerreiros. A pedido do almirante François de Rasilly, que estava furioso, o padre cobrou do morubixaba Japi-açu:
– Vocês nos deram um cano. Não honraram a palavra empenhada.
– Ei, padre, calma. Trouxemos tudo aquilo que prometemos – retrucou Japi-açu.
– Mas não chegaram no dia combinado – insistiu o capuchinho
 Du calme, mon père! Só demoramos um pouco porque no caminho pintou uma festa numa outra aldeia. A gente falou que ia chegar antes? Falamos sim, mas e daí? Nós não somos escravos de ninguém, não somos escravos nem das nossas palavras – disse sabiamente o cacique.
Legado histórico
Essa foi a frase que encantou o casal de escritores, embora eu não saiba se a Ana Callado ainda se lembra do episódio. A fala do cacique nos revela que entre os índios existiam outras formas de conceber as relações, sem se escravizar ao relógio que eles nem possuíam. As regras estabelecidas pela cultura Tupinambá eram mais flexíveis. A “pontualidade britânica” não era um valor cultuado por eles, cuja medida de tempo era outra. Afinal, os Tupinambá não tinham que “bater ponto” na entrada de suas roças.
Aliás, suíços, alemães e japoneses ficam ainda hoje horrorizados com alguns atrasos de minutos – graças ao bom Deus – nos horários de partida dos trens na França. Portanto, du calme, mon père. As reverências, tirar o chapéu, beijar a mão, como o tempo mostrou com o seu desuso, não são as únicas formas civilizadas de cumprimentar as pessoas. Ainda mais que os franceses não estavam em seu próprio território e, por cortesia, não deviam impor uma forma de viver na terra que não era deles.
Quem pode se aproveitar de episódio semelhante é um certo candidato para quem os índios deixaram de herança aos brasileiros sua “indolência”. Será que não “cumprir com a palavra” é outro legado histórico que explica porque as promessas de campanha eleitoral quase nunca são efetivadas? Ou isso é populismo barato, é enganação, que nada tem a ver com ver com os índios?
Os abolicionistas
As promessas de campanha são apenas palavras que o vento leva. O circo de horrores protagonizado por candidatos corruptos e mentirosos, no caso do Rio – Garotinho, Eduardo Paes, Romário, Índio da Costa – é uma herança da “velha política”. Indica que eles podem fazer qualquer discurso mirabolante porque sabem mesmo que não é para realizar. É para enganar o eleitor. Ali o único que, como vereador, já comprovou ser “escravo da palavra” é o Tarcisio Motta (Psol).
Da mesma forma no Amazonas. O atual governador, Amazonino Mendes, candidato a reeleição, há dez anos concorreu para prefeito de Manaus, mesmo processado por crimes contra o sistema financeiro. Ele resumiu seu programa na época em entrevista à Rádio Amazonas FM:
– Vou administrar Manaus de dentro de um ônibus, bem aparelhado, vou transformá-lo em gabinete itinerante. Não é o povo que deve ir à Prefeitura, a Prefeitura é que tem de ir onde o povo está. Vou comprar unidades móveis de saúde com equipamentos modernos que vão percorrer os bairros, oferecendo atendimento primário e distribuição gratuita de remédios”. Amazonino ganhou e governou quatro anos. Cadê o que prometeu? Necas de pitibiribas!
Talvez a retratação feita por um dos capuchinhos relatada ao casal Callado nos ajude a entender o real interesse dos atuais candidatos e as razões pelas quais se tornaram “abolicionistas da palavra”:
“Os Tupinambás vivem sem cuidado, sem preocupar-se com os bens temporais, não dão tratos à imaginação para amontoar ouro ou prata tanto mais quanto lhes desconhecem o valor. Por isso mesmo, em vez de censuras, merecem louvores e se acham a si isentos de trapaças e de fraudes, de roubos e de furtos, tão comuns no comércio (e na política, acrescentamos nós). Essa é a causa da felicidade dos Tupinambás e essa a vantagem que levam sobre os outros”. (D’Abeville, p 235)
Pois é, né!

P.S. – 1) Yves D’Évreux: História das coisas mais memoráveis ocorridas no Maranhão nos anos de 1613 e 1614. Rio. Fundação Darcy Ribeiro. 2009. 2) Claude d’Abbeville. História da Missão dos Padres Capuchinhos na Ilha do Maranhão e terras circunvizinhas. São Paulo / Belo Horizonte. EDUSP/ Itatiaia. 1975
Ver também:  1)  http://www.taquiprati.com.br/cronica/74-no-onibus-com-o-negao
2) http://www.taquiprati.com.br/cronica/75-omar-o-novo-e-belao-o-probo
Fonte: patrialatina.com.br

Em outros seis, empata, segundo o Ibope; Bolsonaro lidera em dois LULA VENCE EM 17 DOS 26 ESTADOS

De Lucas Gelape do G1.
Pesquisas estaduais realizadas pelo Ibope mostram que o ex-presidente Lula tem pelo menos 50% das intenções de voto em todos os estados do Nordeste (na pesquisa estimulada e considerada a margem de erro de 3 pontos percentuais para mais ou para menos). Numericamente, o maior valor atingido pelo candidato do PT é no Piauí: 65%. Ele ainda atinge 63% no Maranhão, 62% em Pernambuco, 57% na Paraíba, 56% no Ceará e em Sergipe, 55% na Bahia e 53% em Alagoas e Rio Grande do Norte. O menor índice atingido por Lula é em Santa Catarina (20%).
O segundo colocado nas pesquisas, o candidato Jair Bolsonaro, atinge as suas maiores intenções de voto em dois estados do Norte, Roraima (38%) e Acre (35%), e no Distrito Federal (30%). Numericamente, seus piores índices são todos em estados do Nordeste, com o menor valor (8%) nos estados do Piauí e Sergipe.
As pesquisas foram realizadas em 25 estados e no Distrito Federal. Apenas em Minas Gerais ainda não foi divulgada uma pesquisa Ibope após o registro dos candidatos nas eleições deste ano.
O estado em que Marina Silva atinge seu valor mais alto é no Amapá (17%), enquanto Ciro Gomes atinge seu máximo no Ceará (15%), Geraldo Alckmin em São Paulo (12%) e Alvaro Dias no Paraná (22%).
Considerando a margem de erro, Lula tem a maior intenção de voto em 17 estados (todos do Nordeste mais AP, AM, MT, MS, PA, RJ, RS e TO), Jair Bolsonaro em 2 (RR e AC) e no DF, além de existirem empates técnicos em 6 estados (ES, GO, RO, SC, SP entre Jair Bolsonaro e Lula, e no PR entre Alvaro Dias, Jair Bolsonaro e Lula).
(…)
Fonte: DIÁRIO DO CENTRO DO MUNDO - DCM

BOLSONARO É "MUITO TOSCO", MAS A EXTREMA-DIREITA ACABARÁ ENCONTRANDO UM LÍDER MAIS APTO, ALERTA BORIS FAUSTO

"Estamos à beira do abismo, em uma situação muito complicada. Há uma crise institucional muito grave. Há uma incerteza com o resultado da eleição. E existem candidatos que são, ao menos um candidato notadamente [Jair Bolsonaro], muito preocupantes.

Ele vem de uma coisa inegável, que não chegamos a perceber, que foi o avanço da extrema-direita. O Bolsonaro vem nessa onda. Ele é, nitidamente, um candidato que hoje entrou no jogo, mas que também aceita regras fora do jogo democrático.

O que levou a isso [o fortalecimento da extrema-direita] foi a corrosão do jogo democrático. Corrupção, descrença nos candidatos e nos partidos, seja à esquerda ou à direita. Isso proporcionou o avanço da extrema-direita e o crescimento da ideia de um regime forte. 

Essa ideia vem sempre associada aos militares, porque, na cabeça de alguns, se alguém tiver de implantar um regime forte são eles, os militares. Tem também muita gente jovem que apoia o Bolsonaro e não conheceu a ditadura. 

E mais grave: gente que conheceu a ditadura e diz que é isso mesmo. É um eleitorado que diz que cansou dos políticos de centro, dos bem comportadinhos, dessa esquerda que é muito demagógica. 

Quando você vota por ódio ou por raiva, os riscos são muito altos. Se estoura tudo, o caos é instalado e as consequências tendem a ser autoritárias. 

Ainda assim, mesmo que chegue ao 2º turno, parece difícil que o Bolsonaro ganhe a eleição. Na França, as pessoas se assustaram quando Marine Le Pen [candidata ultradireitista ao governo francês] chegou ao 2º turno [em 2017] e se juntaram nas candidaturas enquadradas dentro da normalidade.

[sobre Bolsonaro ser ou não um fenômeno efêmero] Diria que Bolsonaro é uma má personificação, é muito caricatural. Isso pode agradar a um setor, mas, para articular um movimento, esse homem é muito tosco. 

Uma corrente de extrema-direita vai persistir, mas outro alguém vai encarnar essa corrente, alguém que não ensine uma criança de 5 anos a atirar.
O risco de intervenção militar, acho menor do que em 1964. Mas o risco de uma descida aos infernos por uma via autoritária que seja, até certo ponto, formalmente democrática tem chance de ocorrer como nunca.

[Sobre a possibilidade de a eleição pacificar o país] Vai continuar dividido e polarizado. Vamos dizer que o Bolsonaro seja eleito. Como se estabiliza isso, com as características desse homem? Quem vai governar, o Posto Ipiranga [o economista Paulo Guedes]? É crise mesmo. 

O Alckmin é o que tem mais condições de levar a política para frente, mas é muito a velha política. Não é nada muito animador."
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(trechos de entrevista do historiador e cientista político Boris Fausto à revista Exame; a
íntegra pode ser acessada aqui)


Fonte: naufrago-da-utopia.blogspot.com